2009 – Rota TransLAMAzônica: Natal – Transamazônica

PARTICIPANTES:

Enio/Marinês – Troller
Alexandre/Gleide – Land Pick Up (Chico Bento)
Álvaro (Artnic)/Braulio – Toyota CD
Levi/Joaquim – Land 110
Luciano/Bezera – Land 110
Clidenor/Vera – Troller

RESUMO DO ROTEIRO:

NATAL(RN) – MARABÁ(PA) – ALTAMIRA – SANTARÉM – ITAITUBA – JACAREACANGA -APUÍ(AM) – HUMAITÁ – FAZ.FERRADURA(RO) – HUMAITÁ(AM) – MANAUS – BELÉM(PA) – LENÇÓIS(MA) – JERICOACOARA(CE) – NATAL

8.360 km

Arquivo. GTM para Trackmaker do caminho percorrido.

Sites de grupos que já fizeram a Transamazônica:

EXPEDIÇÃO DO FREVO – TRANSAMAZÔNICA – http://www.cameltrophy.com.br/expedicaodofrevo/noticias.html
BALAIO – aventuras: http://www.balaio.com.br/aventuras/index.htm
MOTOR ONLINE – http://www.motoronline.com.br/roteiros/roteiros.htm

Agradecimentos especiais: NATAL ROLAMENTOS – Rolamentos, retentores e peças para 4×4 – fone: (84) 3205-3250 – NATAL – RN

22-01-2009 – Partimos! Partimos para mais uma aventura. Saímos com um pouco de atraso, com é normal. Marcamos a saída para as 7:00 mas acabamos saindo as 13:00 horas. Sem problemas, vamos devagar e sempre. Com este pequeno atraso, calculamos nossa dormida em Cajazeiras (PB). Logo nos primeiros cento e poucos quilômetros nossa primeira baixa. A Land do Levi parece ter estourado o mangote da turbina. Soltou uma fumaceira que até parecia um motor de F1 estourando. Quando o Levi abriu o capô, as chamas se avolumaram e tivemos que usar os extintores para apagar o fogo. O Levi teve algumas queimaduras no braço, prontamente atendido pelo nosso médico de plantão D. Bezerra que aplicou uma pomada e felizmente nada de grave. Após rebocarmos a Land para uma sombra e um lugar mais seguro, o Levi e o Joaquim ficaram esperando o reboque para voltar a Natal e nós seguimos viagem. A ultima noticia que o Levi nos passou é que há possibilidade de fazer o conserto mecânico ainda na parte da manhã mas o problema foi a queima da instalação elétrica o que pode levar o dia todo. O importante é que eles poderão se juntar ao grupo dentro de uns dois dias.
Apesar destes imprevistos, chegamos tranquilamente em Sousa (PB), já fizemos nossa rodadinha de comemoração com a cachaça Vale Verde que nossos amigos Nakamura, Marco Aurélio e Suzete nos brindaram quando saímos de Natal.

23-01-2009 – Hoje o dia foi tranquilo, sem incidentes. Saímos cedo do hotel e percorremos 750 km. Chegamos em São João dos Patos (MA). A boa notícia é que os colegas Levi e Joaquim consertaram a Land e estão a caminho. Para darmos mais tempo para que eles nos alcancem, decidimos passar o dia de amanhã em Carolina e aproveitaremos para revisitar as magnificas cascatas do lugar.

24-01-2009 – Infelizmente hoje não foi um dia tranquilo como o de ontem. Tivemos mais uma baixa e desta vez sem chances de recuperação. A Land do Alexandre teve que ser rebocada de volta para Natal com problemas, aparentemente, de caixa e diferencial dianteiro. O nosso diagnóstico (ninguém é mecânico) é que já havia alguma quebra na caixa ou no blocante central que fez com que a transmissão só funcionasse na frente e com o longo trecho percorrido no asfalto acabou prejudicando o diferencial dianteiro. No exame dos óleos, o óleo do diferencial dianteiro apresentou limalhas de ferro o que é altamente sugestivo de quebra de alguma peça.
Nestas horas de sufoco a gente acaba conhecendo pessoas que realmente fazem valer a pena viajar. Pedindo informações sobre oficina em São Domingo do Azeitão – MA acabamos conhecendo o Aquines Guimarães, fazendeiro, da Fazenda Nossa Senhora do Carmo, plantador de soja, milho, arroz e criador de peixe e também ex-prefeito da cidade. Nos deu assistência especial, buscando mecânico e oferecendo a fazenda para deixar a Land com segurança até o guincho do seguro apanhá-la. Outra pessoa que devemos agradecer pela ajuda é o mecânico Catarina do Posto Azeitão, futuro fazendeiro e empresário de peças para caminhões.
Distribuída a bagagem do Alexandre entre os outros carros e o Alexandre pegando carona com o Luciano e o Bezerra, seguimos viagem até Carolina MA.
A boa notícia é que o Levi, depois de mais uma pane com vazamento de óleo, causada pela pressa do conserto anterior, está a caminho e deverá se juntar ao grupo depois de amanhã, provavelmente em Marabá.

25-01-2009 – Ao contrário de ontem o dia hoje foi tranquilo. Os planos era dormir um pouco mais, sair para visitar uma ou duas das principais cachoeiras ao redor de Carolina e lá pelas 11:00 horas sair em direção a Marabá – PA. Quando chegamos no Parque Pedra Caída o guia nos informou que o acesso as principais cachoeiras estava interditado por causa do volume de água que estava muito alto e pela água estar barrenta sendo muito perigoso andar no leito do riacho sobre as pedras. Restaria visitar duas outras cachoeiras a oito quilômetros de distância mas teríamos que pagar R$ 30,00 por pessoa! Achamos que isso não era explorar o turismo e sim explorar o turista. Seguimos viagem até Marabá. Estrada asfaltada e em boas condições, exceto uns poucos quilômetros depois de Carolina. Após atravessar a balsa no Rio Araguaia, encontramos alguns poucos quilômetros de estrada de terra em condições razoáveis. Chegando em Marabá, procuramos hotel e fomos conhecer a orla do Rio Tocantins que parece ser bastante agitada nos finais de semana e à noite já que vimos bastante bares e mesas espalhadas ao longo desta estrutura feita especialmente para as pessoas passear e se divertir.

26-01-2009 – O deslocamento de hoje foi de apenas 280 km. Ficamos em Marabá esperando o Levi e saímos por volta das 13:00 horas. Depois dos cerca de 40 km de asfalto na saída de Marabá, começou a estrada de terra o que consideramos o verdadeiro início de nossa aventura, A estrada é ruim, extremamente esburacada e cheia de costelões de vaca, dá pena da suspensão dos carros. Víamos algumas nuvens pretas ao longe mas nada de chover e lama só para melecar os pneus. O inusitado foi um caminhoneiro pedindo ajuda porque seu caminhão carregado de pedra (Mercedes 1418), que de tão carregado não conseguia subir um tope (morro muito íngreme). O Clidenor colocou o Troller na frente do caminhão, engatamos a cinta (segundo o Cassiano, vendedor da cinta, aguenta até 45 T) e o Clidenor engatou a primeira reduzida e os dois partiram. E não é que conseguiram! Depois desta feita voltamos a estrada e chegamos em Pacajá -PA.

27-01-2009 – De Pacajá até Uruará não pegamos chuva apesar de ter chovido um pouco durante a noite. Mas mesmo assim sentimos um gostinho, fraco, de lama, resquício das chuvas de dois dias anteriores. A estrada melhorou um pouco mas continua muito ruim. Encontramos o primeiro caminhão carreta atolado e passamos na lateral sem problema nenhum. Chegamos em Uruará e já conhecemos dois aficionados por off road, Rafael e Daniel, donos de uma loja de pneus e de um supermercado respectivamente. Batemos longo papo sobre nossas atividades fora de estrada e sobre a vida nesta área da Amazônia.
O fato mais emocionante do dia foi proporcionado pela Land do Levi que numa descida íngreme e barrenta de um tope, ele saiu do trilho para permitir a passagem de uma D-20 que estava subindo e aí começou a ‘dançar’ sobre a estrada. Foram tres rabiadas onde a Land ia de um lado a outro da estrada. Alguns quilômetros antes de Uruará a lama ficou um pouco mais pesada e constante mas nada que um experiente motorista da região, com um Uno, não vença.
Logo na chegada fomos procurar um hotel e o Levi foi procurar um eletricista para ver os faróis de milha. Acabou descobrindo que o alternador precisava de reparos, sequela do problema anterior.
Amanhã vamos seguir para Santarém pela Trans Uruará que, segundo informações de um motorista que acabara de voltar dela por não ter conseguido ir em frente, ‘está boa mas carro pequeno não passa’.

28-01-2009 – A Trans Uruará, é uma estrada que ainda não consta do guia 4 rodas e nem no GPS – Projeto Tracksource. Segundo informações prévias da Expedição do Frevo, a estrada vale a pena ser feita por ser uma estrada que corta a mata quase intocada. Realmente eles tem razão, é uma beleza ouvir a bicharada cantando e gritando enquanto se anda pela selva amazônica.
Logo no início da estrada o Levi detectou que a turbina de sua Land estava com problemas. Olhamos mas não conseguimos encontrar nada e por isso ele optou por voltar até Uruará e ver o que estava acontecendo. Os outros seguiram em frente. Pegamos chuva em um bom trecho que tornou a estrada extremamente escorregadia o que nos obrigou a baixar a calibragem dos pneus para maior segurança. A média não passou de 40 km por hora. Qualquer descuido e o carro rabiava, muito bom. Não encontramos nenhum atoleiro de respeito.
No caminho encontramos uma pequena comunidade com casas cobertas de palha, na beira de um rio, e distribuímos alguns kits que levamos para doar. Kits escolares e kits de saúde. Logo que começamos a distribuição havia duas ou três crianças e em questão de segundos fomos rodeados e a alegria dessas crianças foi emocionante.
Logo depois de chegarmos em Santarém o Levi também chegou e nos deu a boa notícia que o problema foi apenas um mangote que o eletricista do dia anterior deixou de apertar! Também nos disseram que na vinda rebocaram um carro que estava atolado e que mais uma vez a Land escorregou perigosamente para a beira de um buraco, mas graças a habilidade de Levi, macaco velho, tudo acabou bem.

29-01-2009 – Hoje meu dia foi de oficina! Desde que sai de Natal notei que Troller estava apresentado um barulho estranho no eixo traseiro quando fazia curva. Segundo o mecânico isto seria o auto blocante e poderia viajar sem problemas. Acontece que o baurulho aumenta principalmente quando o óleo esta quente. Resolvi dar uma olhada com um mecânico experiente daqui de Santarém, o Naldo, da Oficina Souza (93)3529-1000 // 3522-2333. Cara muito gente fina e com a experiência de cinco Rally dos Sertões. Levantamos o Troller e aí constatamos a quebra de uma bieleta dianteira, quebra dos dois coxins do radiador (o que poderia trazer graves consequências) e também um rolamento da caixa de transferência roncando (segundo Marinês, o rolamento da caixa de ferramentas!). O barulho nas rodas traseiras parece ser provocado pelo óleo diferente do especificado, mais fino. No final das contas acabamos fazendo uma revisão geral. O pessoal da oficina ficou trabalhando direto para me entregar o carro até o final do dia. Conseguiram. Sai da oficina por volta das 21:00 horas e fomos direto para Alter do Chão encontrar o pessoal. Chegamos justamente na hora que estava saindo duas bandas de tambaqui com cerveja gelada!

(Por Braulio) Hoje, depois de passarmos a manhã passeando pela beira do rio, iniciamos o deslocamento para Alter do Chão, que é um balneário próximo a Santarém, onde visitamos as ilhas fluviais, que ja estão desaparecendo devido ao período de chuvas que as encobre totalmente. Ficamos na expectativa de aguardar o Ênio que ficou em Santarém fazendo alguns ajustes no Troller. Pernoitamos no Hotel Mirante do Rio, com a vista fantástica para as ilhas fluviais. Nos fartamos de Pirarucu e Tucunaré.

30-01-2009 – (Por Braulio) Reiniciamos o deslocamento com destino à Itaituba, acreditando na previsão da meteorologia que indicava chuvas intensas. Lamentavelmente não ocorreram. Chegamos ao destino sem nenhum divertimento, ninguém atolou, ninguém quebrou, logo emoção ZERO! Em compensação chegamos as 17:00 h e a rodadinha foi extensa com o 12 anos Legitimo Dewar´s do Alexandre! Na verdade a única emoção ficou por conta do sofrimento do Alexandre, que esta de carona com o Luciano, que se estivese com a M… pronta ele estaria todo melado, grudado no banco da Land do Italiano. Pois também acabou dando uma rabeada feia (ou bonita?) na estrada seca e quase capota para trazer emoção neste trajeto.

31-01-2009 – O trajeto Itaituba até Jacareacanga foi, mais uma vez, tranquilo por uma estrada muito boa. A emoção ficou por conta de uma rabeada, desta vez foi o Artnic. Se distraiu com um biscoito e quase saiu da estrada indo para o buraco no acostamento chegando a levantar uma roda dianteira. Tudo bem foi só um susto. Chegamos em Jacareacanga. Uma vila muito mais ou menos, sem muito recurso. Cheguei com o Troller com um amortecedor dianteiro estourado (amortecedor Nakata de F4000, novo) e com vazamento na tampa do diferencial traseiro. A única oficina era uma oficina de moto e que mais aparecesse. Trocamos o amortecedor por um que tinha levado de reserva, consertamos o vazamento do diferencial devido a um parafuso com rosca espanada. Fomos para o hotel, muito ruim, por sinal (só tem duas opções). Jantamos um churrasco de frango e carne de sol e fomos dormir.

01-02-2009 – De Jacareacanga até Apuí foi em estrada em bom estado e sem chuva. Impressionante é que a chuva passa na nossa lateral mas na frente nada. A única água de frente é o esguicho do limpador de para-brisa! Apuí nos impressionou pela beleza, Cidade pequena e muito bem cuidada. Não tivemos tempo de ir até a cachoeira mas vimos, pelas fotos, que é muito bonita. Almoçamos em uma churrascaria local e seguimos até o km 180. A estrada continuava muito boa. Somente nas proximidades da vila do km 180 é que piorou e muito, em quantidade de buracos. Ficamos na Pousada Tropical. Conhecemos os proprietário da pousada e também grandes fazendeiros, Leandro e sua esposa Fabiana que estavam acabando de chegar de uma viagem pelo Brasil. Batemos longo papo sobre a situação na área, conflitos entre fazendeiros, Incra, Ibama, os que vieram com incentivos do governo e depois abandonados e etc. Enfim, inúmeras situações onde todos tem razão e todos são mocinhos.
Fomos jantar em uma padaria ao lado da pousada, a melhor opção da vila, mas logo chegou uma camioneta com tres homens, completamente bêbados, com um som horrível e a todo volume. Um deles, com uma grossa pulseira de ouro e colares de ouro (daria para comprar uma frota de carros!) se identificou como policial civil. Logo depois apareceu outra camioneta com uma dúzia de adolescentes e uma bateria de som de milhões de watts, a todo volume. Não deu pra aguentar tanto som, saímos e voltamos á pousada. Conseguimos algumas mesas e pedimos para que a padaria nos entregasse o jantar na própria pousada, ficamos bebericando umas cervejas, jantamos e fomos dormir. As nuvens escuras ameaçando chuva estão sobre a estrada que faremos amanhã. Segundo a previsão do Alexandre, que é a mesma de diversos dias atrás, ‘vai chover torrencialmente’.

02-02-2009 – Durante a noite choveu bem e isto aumentou a nossa expectativa quanto encontrar lama pela frente. Nada feito! Do Km 180 até a entrada da Estrada do Estanho foi em estrada boa. A Estrada do Estanho estava com muita água mas nada assustador. Interessante é que junto as grandes poças d’água nossos carros eram ‘atacados’ por enxames de mutucas o que nos obrigava a fechar os vidros dos carros. No meio da estrada encontramos uma cancela a apareceu um rapaz com dois brincos em cada orelha, mechas de cabelos oxigenados e vestindo colete da Funai e nos cobrou R$ 20,00 por cada carro. A pergunta que nós nos fizemos foi: será que eles pagam pedágio quando saem das suas terras e entram nas terras dos brancos?? A resposta foi: algo está errado e pode gerar conflitos no futuro.
No caminho encontramos duas situações de desafio que, na verdade, não foram tão desafiante mas, pelo que encontramos até agora merecem registro. A primeira foi um lamaçal bastante extenso onde colocaram grossas tábuas de toras fazendo uma espécie de ponte sobre a lama. O problema que a bitola era para caminhão e por isso era preciso alguém na frente balizando o motorista para não cair no espaço entre uma tábua e outra. A segunda situação foi uma subida de uns 40 metros com muita lama e um trator lá em cima, parado só esperando os carros atolarem para rebocar. Engatamos nossos 4×4 e aceleramos. Um a um subindo com mais ou menos esforço dependendo do motorista, é claro. Todos acabaram subindo sem precisar de reboque. Ficamos contente de finalmente encontrar lama molhada e não somente lama seca.
Chegamos na Fazenda Ferradura em Rondônia por volta das 16:00 horas e logo depois chegou o Balzan (tio do Alexandre e administrador da fazenda), a esposa tia Rosa e o filho Alan e trazendo a Gleide, esposa do Alexandre, que veio de avião até Porto Velho. Depois dos comprimentos o Balzan providenciou um churrasco.

03-02-2009 – Aproveitei a manhã para fazer um reaperto no amortecedor que foi trocado e também dar um pingo de solda na carcaça que quebrou e estava fazendo barulho. O Levi e o Joaquim seguiram viagem para Brasília.
Reencontramos uma figura ímpar, uma pessoa especial que é o Aguinaldo, capataz da fazenda. É a pessoa de uma presença de espírito extraordinário e contador de causos que deixa qualquer um ‘se mijando’ de dar risada. De vendedor de bíblia a peão experiente, nos ensinou muita coisa sobre bois e vacas.

Por Braúlio – Hoje foi um dia e tanto, depois de andar um tanto pela fazenda Ferradura montado em uma mula, com o capataz Aguinaldo e o peão Cirlei, juntamos uma bezerrada no curral para marcar a ferro quente se era macho ou fêmea. Segurando os bezerros a mão… já pelos últimos tinham 2 bezerros mais agitados, enquanto eu segurava um junto ao peão Iziel, o segundo bezerro pulou por cima de mim me jogando ao chão, e de quebra me dando um coice bem acertado na buchecha. Na hora tudo ficou meio escuro, fiquei meio sem orientação, mas nada que uma agua gelada, um banho e uma boa comida não resolva. Bom como diz o Alexandre fui ‘Batizado’ aqui na fazenda Ferradura!

O calor foi intenso e a cerveja gelada. Á medida que a noitinha ia se aproximando os convidados de Alexandre vinham chegando. O Tarciso trouxe seu famoso Porco Recheado (fez também no ano passado quando a Rota Andina passou por aqui). Ele tempera o um porco inteiro, recheia com arroz e temperos e deixa por volta de 8 horas assando em uma churrasqueira especial. Só provando para crer! O colega Dr. Bezera fez um carreteiro especial com a carne de churrasco de ontem. Foi morta uma ovelha para outro churrasco e o bom amigo Henrique trouxe dois peixes Pintados enormes. O Neto se encarregou de trazer a cerveja gelada do seu bar, Bar do Neto lá de Machadinho D’Oeste. Mangueirinha, gaiteiro experiente, o filho do Tarciso na viola, a figuraça kapetão.com.br com suas graças e tocando triangulo e tudo isso acompanhado pela voz do fazendeiro e deputado Neodir, grande cantador, exímio trovador e futuro governador de Rondônia, abrilhantaram a festa. Compareceram ainda muitos outros amigos e vizinhos do Alexandre e a festa rolou até altas horas.

04-02-2009 – De manhã fomos ver a castração de boi feita pelo futuro Dr. Bráulio e depois fomos tomar um gostoso banho de rio. Á tarde nós fomos experimentar do jirico, carro para a lida da fazenda com motor Agrale dois tempos, 4×4, sem capota, e uma pequena carroceria. Fomos dar uma volta no jirico para visitar a fazenda e acabou acontecendo um fato engraçado. Em uma subida íngreme e cheia de erosões o jirico escorregou e acabou colocando a roda traseira no buraco inclinando o carro. Todo mundo pulou rapidamente de cima do jirico e tudo que estava em cima acabou caindo. Depois do susto ficamos dando risada. Luciano que estava acompanhando a expedição com sua Land, subiu a ladeira sem problemas mas foi uma boa experiência off road.

Por Bráulio – O ponto alto do meu super estagio por aqui foi a castração de 13 bezerros. O capataz Aguinaldo me ensinou como fazer, fazendo um e eu olhando, a partir do segundo tomei o posto de castrador e fiz os outros, ainda preciso de muito mais prática! E hoje sem acidentes! Bom, acho que meu estágio por aqui terminou hoje, mas se Alexandre permitir logo estarei de volta!

05-02-2009 – Como no ano passado, durante a Rota Andina em que passamos pela Fazenda Ferradura, fomos recepcionados magnificamente pelo Balzan, tia Rosa e o filho Alan. Muito obrigado!

O Alexandre agora está dirigindo uma Land 110 pick-up – Chico Bento – que é usada na fazenda. Está com a base de um amortecedor traseiro quebrada e com dois pneus praticamente carecas e dois meia vida e não são lameiros.

Saímos da fazenda em direção a Humaitá e acabamos dormindo em Porto Velho. Em Machadinho D’Oeste paramos para reabastecer os carros e deixar o amortecedor para conserto. Seguimos para a fazenda do amigo Henrique que não nos deixou sair sem a promessa de que iriamos passar por lá para almoçar. Como o almoço atrasou um pouco, acabamos saindo tarde e aí resolvemos dormir em Porto Velho. Mas o atraso valeu a pena porque comemos uma galinha caipira com polenta, massa e salada de primeiríssima!
Em Porto Velho fomos recepcionados pelo cunhado do Luciano que nos guiou na busca de hotel, muitos já lotados devido a construção das hidroelétricas do Rio Madeira, e depois nos ofereceu um gostoso jantar no seu Restaurante do Zé.

06-02-2006 – A estrada até Humaitá é por estrada asfaltada e em bom estado. No caminho o Artnic constatou que um amortecedor dianteiro estourou. Um pouco mais adiante o alternador da Land de Luciano também deixou de funcionar e por isso tivemos que fazer uma parada prolongada em Humaitá. O Artnic tinha um jogo de amortecer novo mas não encontramos oficina que tivesse um recolhedor de mola e por isso tiveram que desmontar a suspensão para colocar o novo amortecedor. Por sorte o Luciano conseguiu um eletricista que deu jeito no alternador já que o alternador de Land não se encontra em qualquer lugar. Os reparos ficaram prontos por volta das 15:30h e ficamos na dúvida se deveríamos seguir em frente ou pernoitar em Humaitá e sair bem cedinho já que sabemos que daqui até Manaus não há apoio nenhum e o caminho, apesar de ser de apenas 600 km, pode complicar e demorar mais do que três dias. Seguimos adiante e decidimos que montaríamos acampamento em qualquer lugar.
Uns 20 km depois de Humaitá a estrada é asfaltada, mas com muitos buracos. Segue mais 30 km de asfalto muito bom e depois disso a média de deslocamento é de 30 km por hora, no máximo! Uma hora e meia antes do anoitecer ficamos procurando um lugar para montar acampamento. Achamos um pequeno aterro na beira da estrada que tinha uma pequena casa em cima, um lago com crianças tomando banho e resolvemos pedir permissão para o acampamento. As crianças estavam sozinhas mas logo chegaram os pais. Nos cederam o espaço sem problema e batendo um papo com a família enquanto armávamos as barracas, ficamos sabendo que naquela casa moravam onze pessoas. O casal tinha nove filhos. A mãe só tinha 32 anos e já era avó! Teve o seu primeito filho com 12 anos. Recebem bolsa família, ninguém frequenta a escola porque não existem professores disponíveis e vivem praticamente da plantação de subsistência de mandioca, extrativismo de açaí e castanha, caça, pesca e raramente do emprego em conserto de pontes. É outra realidade.
Barracas armadas, fomos ao jantar. O Bezerra novamente se esmerou no preparo de outro carreteiro com carne de charque na sua panela de ferro e mais uma vez ficou uma delicia. Ficamos conversando ao redor do lampião e a luz da lua que estava quase cheia, e fomos dormir temendo muita chuva.

07-02-2006 – Felizmente não choveu muito durante a noite mas, acordamos com uma chuva fraca e intermitente. Desarmamos o acampamento e seguimos viagem. A estrada continuou em péssimas condições, com pedaços de alguns metros de asfalto e outros metros de terra e com diversas pontes em mau estado. Notamos que havia sido feito aterro nos buracos onde poderia haver alguma possibilidade de atolar o que nos tirou a oportunidade de usar o 4×4. Creditamos esta ‘conservação’ recente da estrada ao fato de um general ter passado pela estrada no dia anterior. Em Porto Velho ouvimos a reportagem deste general e uma comitiva de mais umas 12 camionetes (com certeza de políticos) que fariam esta travessia até Manaus para inspecionarem a estrada. Apesar deste conserto emergencial, a velocidade média não passou de 30 km por hora. Há longos trechos em que a mata tomou conta da estrada deixando somente meia pista.
Novamente não chegamos a lugar nenhum e antes de escurecer procuramos lugar para acampar. Infelizmente as torres da Embratel, que estão de 40 em 40 km, sempre estão fechadas com cadeado e em nenhuma delas encontramos gente. Acampamos literalmente no meio da selva, em um esqueleto de acampamento do pessoal que conserta pontes. Este pessoal monta acampamento sobre metade da pista (a estrada não tem movimento mesmo!) e depois abandona a estrutura que é feita de pedaços de pau. Armamos nosso acampamento com um pouco de chuva, fizemos nossos miojos e fomos dormir. Apesar das histórias de onças, o Clidenor, Vera e Bezerra colocaram uma lona sobre a estrutura e armaram a rede para dormir. O Artnic e Bráulio tem a barraca sobre a Hiluz e eu, Marinês e Luciano resolvemos dormir em nossos carros, Alexandre e a Gleide na carroceria do Cico Bento, porque estávamos cansados demais para armar barraca e em baixo de chuva.

08-07-2006 – Logo que saímos do acampamento encontramos uma Land Pick up vindo de Manaus que nos passou a informação que iriamos pegar bastante lama pela frente. Ele mesmo tinha usado âncora em um atoleiro a poucos quilômetros atrás. Ficamos animados, será que desta vez vamos mesmo usar as cintas? Logo adiante realmente tinha um atoleiro `bonito` mas não o suficiente para dar trabalho. Aliás, somente o Chico Bento ficou atolado porque não tinha pneus. Os possíveis antigos atoleiros estavam preenchidos com pedaços de asfalto que o pessoal tira de onde tem asfalto para colocar nos buracos. E assim fomos, de buraco em buraco, média de 30 quilômetros/hora, em direção a Manaus. Mas, com 5600 km rodados desde Natal, finalmente encontramos a chuva mais intensa e a lama! e desta vez molhada! foram 40 quilômetros de puro divertimento. Até o Chico Bento se comportou heroicamente atolando apenas mais duas vezes. Finalmente rodamos o diferencial dianteiro!
Apenas uma situação de relativo perigo foi quando encontramos um trecho que estava sendo preparado para o asfalto em que o leito da estrada tinha um formato de V invertido e como estávamos andando exatamente no vértice e estava chovendo, o piso se tornou extremamente liso com o perigo de deslizar pela ribanceira, que em alguns pontos era de algumas dezenas de metros e uma caída aí poderia causar sérios danos. Mesmo assim, e mais uma vez, até mesmo o Chico Bento com seus pneus carecas, conseguiu passar por estes pontos mais críticos, mas acabou escorregando e indo parar lá em baixo. Quando estávamos fazendo o resgate, com os dois Trollers tentando puxar o Chico Bento para cima, apareceu uma patrola do exército, mas preferimos dispensar a sua ajuda e tentar por nós mesmos fazer o resgate. Os Trollers na parte alta da estrada puxando e o Chico Bento vindo de arrasto pela beirada da estrada. Fomos puxando por algumas dezenas de metros até que alcançamos a estrada mais plana. Valeu o boi!
E daí, pegamos a estrada asfaltada até Manaus. O interessante, curioso e inexplicável fato que observamos é que o exército está recapeando a estrada, mas o trecho recém-feito, apenas alguns metros atrás, já está totalmente cheio de buraco! O asfalto é praticamente só uma tinta??
Depois de dois dias dormindo no meio do mato, conseguimos ficar em um hotel muito bom e com preço também muito bom (Confort Hotel) logo na saída da balsa, ainda na BR 319.

09-02-2009 – Passamos o dia tentando resolver o problema da balsa para levar os carros até Belém. Conseguimos contatar o Seu Zéca (92-99024009) que providenciou um caminhão cegonha e bem mais barato (metade do preço) do que o transporte por transportador convencional. Infelizmente o Bráulio teve que nos abandonar e seguir para o Rio de Janeiro de avião. Futuro grande veterinário que nos ajudou muito na viagem – grande abraço.

10-02-2009 – Finalmente deixamos os carros para serem carregados na cegonha. Como é proibido o motorista ir junto com a carga, pensamos em ir até Belém de barco para fazer um passeio diferente. Fomos até o porto para ver passagem e o navio. O único navio disponível e que chegaria em Belém no domingo, junto com os carros, tinha apenas alguns camarotes mas eram tão pequenos e desconfortáveis que acabamos desistindo da ideia de passar quatro dias embarcados. Apenas o Bezerra e o Luciano vão encarar esta aventura.
Ainda deu tempo de fazermos um passeio de barco para ver o encontro das águas do Rio Negro com o Solimões e outras atrações. Muito legal este passeio. Passamos por canais rodeados de floresta inundada, um pequeno passeio pela mata até uma árvore muito grande, um lago com imensas vitórias régias e um delicioso almoço na beira do rio com um pirarucu de lamber o beiço. Quem fez este passeio foi o Branco, proprietário do barco, (92) 9113-7497.
Na volta do passeio passamos por onde estavam os carros para serem embarcados. Vimos o Troller do Clidenor não estava junto com os outros e estava estacionado junto a um bar. Já ficamos de orelha em pé. Chegando ao hotel o Zéca me liga pedindo informações sobre o barco para Belém e aí aproveitei para saber porque o Troller estava deslocado. Ele disse que tinha mandado uma pessoa ir com ele para resolver um problema nos documentos do veículo, mas afirmou que já estava tudo certo. Tudo bem, aceito a explicação e logo mais iria ver com o Clidenor o que poderia estar errado nos seus documentos. Mais tarde nos encontramos na piscina e o Artnic e Clidenor decidiram ir até lá verificar. Chegando lá constataram que o documento que o Clidenor entregou era o documento de uma Toyota Hilux que já tinha vendido e provavelmente estava sem o documento do Troller. Depois que os dois voltaram para o hotel com esta história do documento errado, caímos na gozação e risada já que durante a viagem fomos parados três vezes em barreiras policiais e o Clidenor, com uma ansiedade fora do comum em mostrar que estava tudo em dia, era o primeiro a descer do carro para mostrar os documentos. A sorte foi que em nenhuma das barreiras foram exigidos os documentos. Os policiais paravam mais por curiosidade por verem um comboio de carros adesivados. Em apenas uma barreira, no Ceará, sentimos que a intenção foi extorquir uma grana já que o policial parou o Artnic porque estava com a barraca sobre o teto da Hilux e, segundo ele, não poderia. Com a chegada dos outros carros do comboio, muitos com bagageiro e coisas em cima, deve ter ficado com receio do trabalho que teria caso resolvesse nos multar.
Imaginem se os documentos fossem verificados na última barreira policial, que foi na entrada de Jacareacanga, o problemão que teríamos?! Motivo de muita gozazão em cima do agoniado Clidenor
Outro fato que surgiu da visita do Clidenor e Artnic, foi que constataram que o plástico da capota do Chico Bento estava rasgada. Como não sabiam se já estava ou não e porque o carro já estava em cima do caminhão, resolveram consultar o Alexandre no hotel. Confirmado que o plástico realmente foi rasgado, o Alexandre e o Artnic voltaram onde estavam carregando o caminhão. O Alexandre subiu e constatou que uma mala, do Bezerra, estava praticamente vazia. Pelos nossos cálculos, o que poderia ter sumido era a famosa panela de ferro em que o Bezerra fez seus saborosos carreteiros. Quando o Bezerra chegou ao hotel confirmou que naquela mala estava a panela e alguns alimentos. Também foi motivo de algumas gozações já que levar uma panela de ferro para um acampamento e uma viagem longa como essa, é algo inusitado!
A Gleide deixou o grupo voltando à Natal para trabalhar. Oh, coitada!

11-02-2009 – Confirmamos nossa ida para Belém hoje as 18:55. Aproveitamos o dia para visitar o famoso Teatro Municipal, muito bonito, a Igreja de São Sebastião, vinte anos mais antiga que o teatro e depois fomos almoçar no Panela Cheia onde o nosso amigo Vanderlei, catita, meu colega na Petrobrás, encomendou uma deliciosa banda de Tambaqui. Chegamos em Belém por volta das 22:00 horas depois de um pequeno atraso em Manaus devido a chuvas torrenciais (no fim da transLAMAmazônica chove!).

12-02-2009 – Vamos aproveitar para conhecer a cidade. Primeiro a antiga e tradicional Feira do Ver o Peso. Uma feira onde se encontra de tudo. Dezenas de tipos diferentes de farinha de mandioca, peixes, camarão seco, pimentas, comidas, etc. E claro, o setor de garrafadas, raízes, folhas e tudo para todos os males. Neste setor aconteceu algo hilariante. Eu, Artnic e Clidenor andando lado a lado olhando os produtos quando uma senhora, morena e meio corpulenta, sentada em seu banquinho esperando clientes, apontou para uma garrafa de viagra natural perguntou ao Clidenor se ele não gostaria de comprar. Clidenor protestou de imediato: ‘porque só eu? E os outros? eu não preciso….’ fomos dando risada e nos aproximando da barraca. O Clidenor comprou uma casca de árvore que serve para tudo e quando estávamos saindo a senhora insiste: não quer levar o viagra? Mais protestos veementes do Clidenor insistindo que não precisava daquilo…e aí a senhora saiu com uma resposta muito espirituosa: ‘se não precisa disso então venha dormir comigo!’ Imaginem a gozação!!

Seguindo a pé mesmo, um pouco mais adiante, tem o Forte do Presépio de Belém que domina a entrada do porto e o canal de navegação, Rio Guamá, que costeia a cidade de Belém. No seu interior estão expostos antigos canhões e munições e no seu interior o Museu do Encontro que conta o início da colonização portuguesa na Amazônia e exibe peças de cerâmica Marajoara e objetos indígenas. Junto ao forte há um ótimo restaurante, Restaurante das Onze Janelas, onde comemos um gostoso filhote. Um pouco mais adiante tem o Mangal das Garças que é um espaço pequeno mas muito bonito e interessante onde se pode caminhar entre diversos tipos de aves que estão livres. Patos, gansos, garças, guarás com plumagem vermelha lindíssima mais um borboletário com diversas espécies de borboletas, um mirante que se sobe de elevador, restaurante e um pequeno museu onde estão expostos alguns objetos de velhos navios e algumas maquetes de embarcações típicas do Amazonas. À noite fomos nas Docas que é um espaço muito bonito. O governo reformou uma parte de antigas docas e fez uma área com diversos restaurantes, bares e lojas onde se pode passar horas muito gostosas tomando chopp e linguiça a metro. As Docas é um espaço em que muitos governos deveriam se espelhar para produzirem espaços de lazer para seus habitantes e para os turistas também.

13-02-2009 – Alugamos um carro para visitar alguns pontos mais afastados de Belém. Primeiro resolvemos ir até a Ilha do Mosqueiro mas, acabamos errando o caminho e só nos damos por conta em Castanhal, uns 40 km além da entrada para Mosqueiro. Voltamos e quando chegamos em Mosqueiro a chuva chegou junto e aí não deu para curtir a praia de água doce. Demos uma volta pela ilha para ver o povoado e algumas praias, por sinal muito bonitas e voltamos para Belém em direção à Icoaraci para comer uma caldeirada de filhote. Visitamos alguns artesões de cerâmica. Muitas peças lindíssimas e até que nem tão caras. Todos compraram algumas peças pequenas e voltamos ao hotel ‘descansar’ para a noite ir para as Docas novamente.
Nossos amigos Luciano e Bezerra, que estão voltando de Manaus de barco, deram notícias de Santarém e deverão chegar em Belém no domingo de manhã.

14-02-2009 – Com a perspectiva da chegada dos carros hoje ou amanhã, fomos novamente a Feira do Ver o Peso para comprar farinha e também acompanhar o Alexandre que não foi ontem. Escolhidas as melhores farinhas, como grandes experts que somos (sic!) fomos para as Docas almoçar um tradicional pato no tucupi. À tarde, depois de um descanso rápido no hotel, fomos visitar o Museu Emílio Goeldi. Estava um pouco desfalcado com a morte do peixe boi, a remoção do viveiro das cobras e alguns tanques de tartarugas, mas sempre é bom visitar um pedaço de floresta no meio de uma cidade. Voltamos a pé para o hotel e quando passamos pela praça do Conjunto Arquitetônico de Nazaré presenciamos um espetáculo maravilhoso proporcionado por milhares de periquitos que pousavam sobre uma enorme árvore fazendo uma algazarra ensurdecedora. Parecia que aquele bando enorme de passáros estivessem sendo orquestrados por um maestro que dava a ordem de se aquietarem, de gritarem e de sair em debandada em grandes grupos fazendo revoadas pela praça. Muito bonito!

15-02-2009 – Marinês e Vera não passaram a noite bem. Dores pelo corpo, vômito e diarreia (talvez muito tucupi e jambu). Mesmo assim estavam decididas a seguir viagem.
Logo cedo Artnic liga para os quartos avisando que o motorista da cegonha já tinha aportado e que desembarcaria os carros a partir das 8:00 horas. Tomamos café rápido e fomos até a empresa onde nossos carros estavam. Felizmente estava tudo em ordem. Até mesmo a panela de ferro do Bezerra estava lá. O rasgo na capota do Chico Bento foi apenas um ato de vandalismo de algum moleque. Agilizamos os papéis de retirada dos carros e voltamos para o hotel arrumar as malas para nova partida. Logo que o Artnic arrumou as malas voltou para Rio onde tinha compromissos importantes. Telefonamos para o Bezerra e Luciano e nos disseram que estavam atracando o navio e logo estariam no hotel. Já estava certo que Luciano voltaria de Belém direto para Natal e agora Bezerra iria voltar com ele. Eles teriam que esperar até segunda para consertar a base do amortecedor dianteiro. Esperamos os dois chegarem no hotel, nos despedimos e continuamos a viagem. Agora somos: Enio e Marinês, Clidenor e Vera e o Alexadre.
Na saída de Belém o Troller do Clidenor arrebentou a correia. Estacionamos embaixo de uma marquise para fugir da chuva torrencial que estava caindo e nos metemos a bancar os mecânicos especialistas. Mas conseguimos a façanha de trocar o esticador da correia que estava com o rolamento pifado e ainda colocar uma correia nova. E pra trocar a correia?! Afrouxa daqui, aperta daí, olha no outro Troller as voltas que a correia dá… Finalmente conseguimos! E tudo isso em apenas umas 3 horas de trabalho duro!
Seguimos viagem e fomos dormir em Bragança-PA.

16-02-2009 – Marinês e Vera já estão bem melhor, para alívio de todos. De Bragança fomos visitar a Praia de Ajuroteua, mais a norte. Logo que chegamos fomos para a praia e aí constatamos um vazamento de óleo no Chico Bento. No primeiro momento parecia ser óleo saindo na junção do cardã com o diferencial dianteiro. Analisando melhor, verificamos que o óleo estava vindo de cima, do motor. Apertamos a tampa dos tuchos que estava meio folgada, mas o vazamento continuava. Um exame mais atento mostrou que uma espoleta (aquela chapinha que é colocada em alguns furos no bloco do motor) estava caindo. Arrumamos no lugar e colocamos o santo durepox. Enquanto o durepox endurecia fomos procurar pousada e tomar umas cervejas. A caixa de direção também está vazando, mas vamos colocando óleo até uma oficina mais preparada.
Encontramos uma pousada bem simples e à beira mar. Aliás, pousadas aqui nesta praia é o que não falta. São dezenas delas e as que estão á beira mar são construídas de madeira e em cima de palafitas (tudo muito mal cuidado). É uma paisagem surreal! Segundo os moradores, depois de Salinas, Ajuroteua é a praia mais famosa do Pará. Á tarde, com maré baixa, eu e Alexandre fomos ajudar os dois empregados da pousada numa pescaria de rede. Em três tiradas de rede conseguimos pegar uns três(e) (mentira de pescador) quilos de diversos peixes e alguns siris. Fritos na hora, uma delícia!

17-02-2009 – Acordamos relativamente cedo depois de uma noite mal dormida, para todos, devido aos mosquitos, colchão ruim, luz do corredor clareando o quarto, chuva, etc. A intenção hoje era chegar em São Luiz ou próximo. Logo na saída de Ajuroteua, uns 10 km adiante, encontramos uma ponte sendo reformada e o transito só iria ser aberto na sexta feira. Pânico! Teremos que ficar quatro dias parados em Ajuroteua ao invés de Lençóis Maranhenses ou Jericoacoara…Impossível! Clidenor, com toda a sua angustia que lhe é peculiar, ofereceu R$ 500,00 para permitir nossa passagem. Depois de algum charminho o encarregado disse para nós passarmos por lá as 16:00 horas. Voltamos para Ajuroteua e no caminho entramos em uma vila de pescador e fomos dar na praia, em um lugar muito bonito. Paramos para curtir o visual tomando uma cervejinha e logo começa a chover. De repente o Clidenor sai em disparada em direção a uma areia fofa para testar o Troller e acaba atolado. Embaixo de chuva saímos em seu resgate. Coloquei o PRETÃO para servir de âncora para seu guincho mas o Troller do Clidenor estava tão enterrado na areia que puxava o PRETÃO para trás e não saia do lugar. Colocamos mais o Chico Bento como âncora até sair do buraco e depois, com a ajuda decisiva do Chico Bento acabamos de puxar o Troller para fora do atoleiro. Como tinhamos que fazer hora, resolvemos seguir até Ajuroteua pela praia. Foi uma empreitada não muito fácil porque a areia estava muito fofa e cheia de pedaços de pau e por isso de vez em quando era preciso subir sobre pequenas dunas, também fofas e cheia de vegetação, para não atolar. Infelizmente depois de algum tempo percebemos que havia um rio intransponível para chegar onde queríamos. Tivemos que voltar. Neste trecho de off road o Chico Bento mostrou toda a sua valentia e poder de verdadeiro 4×4 que, mesmo com pneus finos, carecas e com 30 libras, não se intimidou. Eu e Clidenor sugerimos ao Alexandre que troque a Land que deixou ele na mão logo no início da viagem pelo Chico Bento.
Chegando em Ajuroteua procuramos um restaurante. A maioria das pousadas e restaurantes estão fechados nesta época do ano e nos indicaram o Restaurante Boca de Bagre. É um restaurante bem simples, sobre paliçadas e quem passa pela cozinha e conhece o proprietário e cozinheiro, nunca imaginaria comer uma das melhores caldeiradas de peixe que comemos até aqui. Parabéns!
Três e meia da tarde seguimos para a ponte. Chegando lá, o pessoal que estava consertando a ponte começou a vacilar ou fazendo charminho para valorizar a grana que iriam embolsar fácil, fácil, mas acabamos convencendo-os de que era só afastar para o lado um bate estaca que estava no meio da ponte que iríamos conseguir passar, embora com certo risco de cair no rio (a altura era de uns 10 metros). Quatro operários com grandes pés de cabra, afastaram a máquina para o lado. Medimos a bitola dos carros e o espaço que teríamos para passar, bastante apertado, mas calmamente conseguimos passar. Com todo este atraso acabamos pernoitando novamente em Bragança.

18-02-2009 – De Bragança até a BR-316 resolvemos ir por estrada de terra. Estrada esburacada com um pouco de lama só para sujar os carros. Daí até o Ferry Boat, em Cojupe, para São Luis, só asfalto. A travessia até São Luiz leva em torno de uma hora e meia. Durante a travessia apareceram dezenas de gaivotas e andorinhões seguindo o rastro do ferry e depois de um tempo percebemos que elas estavam acompanhando o barco para apanhar pequenos peixes. Acreditamos que a passagem do bardo atordoa os pequenos peixes e os pássaros aproveitam para fazer a refeição. Interessante observar como estes pássaros tem uma visão super aguçada para poder distinguir estes peixinhos no meio da espuma que o barco deixa no seu deslocamento. Muito interessante e bonito.
Artinic já está em casa, Rio das Ostras-RJ e Luciano com Bezerra estão em Teresina seguindo para Natal amanhã.

19-02-2009 – Muita chuva. Choveu a noite inteira. Durante o café da manhã o Bezerra e Luciano ligaram de Teresina-PI. Queriam informações sobre qual o caminho mais curto para chegar em Natal (perdidos em Teresina! rs..rs..). Na parte da manhã fomos visitar o Centro de Artesanato – CEPRAMA. De modo geral não tem muita coisa interessante em termos de artesanato. Alexandre comprou algumas coisinhas para presente e só. Nossa intenção era dar uma volta pelo centro antigo de São Luis, mas a chuva não permitiu.
De taxi Clidenor foi comprar o rolamento do esticador de correia. O taxi rodou por toda São Luis até encontrar os rolamentos. Para compensar o preço do taxi o Clidenor comprou duas peças.
Voltamos para o hotel, pegamos os carros e fomos em direção a Santo Amaro-MA, nos Lençóis Maranhenses. Sábia escolha. Depois do asfalto, muito bom, pegamos a entrada para Santo Amaro e começou o lamaçal. Um lamaçal branco e liso que deu para se divertir um pouco. depois dos primeiros quilômetros começou a areia solta. Apesar de ter chovido e a areia estar molhada, as trilhas deixadas pelos toyoteiros é profunda e exigiu o 4×4 direto, com velocidade máxima, até Santo Amaro, de 25 km por hora. Uma delícia!
Durante esta travessia Clidenor notou que o rolamento do esticador da correia estava roncando e teria que trocar novamente!
Encontramos a Pousada Água Doce, a mesma que ficamos na ROTA DUNAS, e saboreamos aquele delicioso Carneiro Torrado.

20-02-2009 – Logo de manhã cedo o Clidenor foi trocar o rolamento do esticador da correia, desta vez foi o outro. Depois fomos visitar a Lagoa das Gaivotas. Fomos sem guia. Como choveu muito, as trilhas estavam inundadas e muitas vezes ficamos sem ver por onde andávamos e nos guiando somente pela direção que o GPS nos dava. Passamos por grandes áreas alagadas, mas conseguimos chegar na lagoa. Tomamos um gostoso banho, fritamos linguiça para o pic nic e andamos sobre as dunas visitando outras lagoas. Na volta o Clidenor comprou uns camarões da Malásia, que são encontrados nos mangues próximos devido ao rompimento de antigos tanques de criação. Na chegada fomos verificar os óleos dos diferencias. No meu Troller entrou água somente no diferencial dianteiro e no do Clidenor nos dois. O Chico Bento não foi verificado. Trocamos os óleos e voltamos para a pousada comer os camarões e encomendar para mais tarde uma galinha a cabidela e uma galinha torrada. Novamente uma delícia.

21-02-2009 – VALEU A VIAGEM!! Hoje o dia foi especial, o dia que valeu a viagem, falando em termos de 4×4. Contratamos o guia Biziquinho (98-3369.1005/91347221) para fazermos a travessia nas dunas, passando por Queimadas, até o litoral, seguindo para Atins e daí até Barreirinhas. A travessia das duas é algo emocionante, mesmo para nós que estamos acostumados subir e descer dunas ao redor de Natal. São dunas diferentes, brancas, com lagos no meio delas é algo realmente fantástico. Nesta travessia sobre as dunas o Chico Bento deu um pouco de trabalho para o Alexandre que em subidas um pouco mais acentuadas ele teimava em não subir. Acabou atolando numa baixada alagada. Com o guincho do Troller do Clidenor saiu. Tudo ia bem até o Rio Negro que estava cheio. Fizemos o reconhecimento a pé e a coisa estava séria. A areia na base estava fofa demais. E agora, seguir ou voltar? Vamos em frente! Atravessei, o Chico Bento veio atrás. Clidenor acelerou um pouco demais e acabou ficando no meio do rio. Corremos para buscar corda e cintas, Vera apavorada com a água entrando dentro do carro até o nível do banco. Novamente com a ajuda do Chico Bento conseguimos resgatar o Clidenor. Poucos metros adiante tivemos que atravessar novamente o rio, mas desta vez em um lugar aparentemente mais raso. Chico Bento na frente, eu atrás e Clidenor logo atrás de mim. E não é que Clidenor ficou novamente! Tentamos com cintas, mas não conseguimos e aí o guincho entrou em ação. Feito o resgate fomos em frente. Alcançamos o litoral e daí até Atins foi sem problemas. Em Atins paramos em um restaurante com combertura de palha e com um robalo de tirar o chapéu além de um camarão de mar fresquinho.
De Atins para Barreirinhas a coisa pegou. A trilha de areia já é bastante pesada e submersa em água então é fenomenal. Grandes poças e grandes extensões com água batendo no capô com passagem difícil devido a lama. Muita calma nessa hora! Chico Bento atolou e Clidenor foi ajudar e acabou atolando também. Logo depois deste entrevero o Chico Bento embicou dentro de um canal profundo e ficou acavalado com a cara submersa. Fácil de tirar e seguimos adiante. Praticamente até Barreirinhas a luta foi não atolar mais. Chegamos mortos de cansados, mas com a alma lavada e encharcada de boa trilha.
Amanhã teremos que examinar os óleos novamente!

22-02-2009 – Como não há vagas nas pousadas partimos para as praias do Piauí, em Luis Corrêia. Novamente nos guiamos pelo GPS e vamos enfrentar a trilha que liga Barreirinhas a Paulino Neves. Na Rota Dunas este trecho nos deu muito trabalho e até trator tivemos que chamar. Até a metade do caminho a trilha estava pesada, mas como a areia está úmida fica um pouco mais firme mas os sulcos deixados pelos toyoteiros são profundos e é fácil cepar os diferenciais. Muito devagar e em marcha forte seguimos sem problemas. Da metade em diante até o campo de dunas conseguiram transformar o que era uma trilha pesada em uma estrada de areia muito boa. Atravessamos o campo de dunas, muito bonito, sem problemas mas, quando pegamos a planície de inundação onde o lençol freático aflora nas partes mais baixas, tivemos que tomar mais cuidado. Logo no início da planície encontramos um motoqueiro com pneu furado e que a roda girava dentro do pneu não permitindo que ele andasse. Paramos e demos a ele alguns pedaços de corda para que ele amarrasse o pneu na roda e pudesse seguir adiante. Depois fizemos um lanche com dois frangos assados que o Clidenor comprou em Barreirinhas, pão e azeitona. Alimentados seguimos adiante e justamente em uma grande poça profunda eu acabei atolando. Doce vingança dos amigos Clidenor e Alexandre já que ontem eles é que deram muito trabalho! Tivemos que usar o guincho. De Paulino Neves até Tutóia é estrada de areia esburacada mas sem problemas. De Tutóia pegamos asfalto até Luis Corrêia. Como é uma cidade famosa pelo seu carnaval, rodamos muito e não conseguimos vagas nos hotéis e pousadas nas praias locais. Voltamos para Parnaíba e também nada. Acabamos dormindo em um motel de terceira ( ou quinta?) categoria.

23-02-2009 – Das 8 horas da manhã até às 4 horas da tarde passamos na oficina! Quando acordei de manhã, no motel, vi que tinha uma enorme poça de óleo do diferencial dianteiro, saindo óleo junto a roda esquerda. O Chico Bento estava sem bateria e tivemos que empurrar. Pegamos um motoboy que nos levou até a Oficina do Manoelzinho, especialista em caminhões e com grande vontade de resolver qualquer problema.
Como diz o ditado: ‘com as burrices é que se aprende!’. No PRETÃO o diagnóstico de retentor da homocinética vazando. Depois de tudo desmontado é que foi aberto o tampão do diferencial onde o óleo saiu jorrando de tanta água que tinha dentro. O vazamento era simplesmente excesso de água!! Não precisava desmontar nada! Como já estava tudo fora e não tinha outro retentor igual, colocamos dois da bomba injetora do caminhão Scania. Em compensação há ‘males que vem para o bem’, constatamos que as pastilhas de freio estavam da espessura de um fio de cabelo e mais 7 pisadas no freio ficaria ferro no ferro.
Chico Bento estava com problemas no alternador. E também com água nos diferenciais. Achar um alternador de Land onde não tem concessionária não é fácil e o conserto também. Felizmente, depois de muitas idas e vindas o eletricista conseguiu fazer o reparo.
Com o adiantado da hora, resolvemos dormir em Parnaíba mesmo no Hotel Civic, o mesmo onde ficamos na ROTA DUNAS. A Sra. Dos Santos, proprietária do hotel, é uma pessoa muito querida e bom papo.

24-02-2009 – Resolvemos arriscar pousada em Jericoacoara-CE, mesmo sabendo que é um lugar super badalado e principalmente nesta época de carnaval. Rápidamente chegamos em Camocim-CE e já notamos um grande movimento de camionetas vindos de Jericoacoara e deduzimos que era o pessoal já retornando e fugindo de três dias diretos de chuva. Logo na primeira pousada conseguimos vagas. O resto do dia foi descanso e andar a pé por Jeri.

25-02-2009 – Alexandre ficou descansando enquanto eu, Marinês, Clidenor e Vera pegamos a trilha e fomos até a Lagoa Paraíso mas já estava tudo vazio, os turistas já tinham ido embora. Aproveitamos para ir até Jijoca para verificar um barulho de rolamento no meu PRETÃO e que foi confirmado como sendo o rolamento do alternador. Como as lojas estavam fechadas devido ao carnaval, vamos arriscar seguir viagem assim mesmo.
À tarde recebemos o telefonema de Bezerra nos informando que Luciano estava com malária! Ainda não sabe o tipo mas sempre é algo que merece cuidados. Como nenhum dos outros componentes apresentou nenhum sintoma e pelas contas dos dias que ele apresentou os sintomas, estamos imaginando que tenha adquirido no navio em que ele e Bezerra fizeram a travessia Manaus-Belém. Isto é apenas suposição. Esperamos que ele se recupere logo.

26-02-2009 – Saímos de Jericoacora, pela beira de praia e com a intenção de chegar em Fortaleza. Não conseguimos devido aos atoleiros. Chico Bento dando trabalho! Em Porto dos Barcos-CE, fomos atravessar um pequeno pedaço de um antigo mangue aflorante na beira de praia, o Chico Bento fica atolado. Eu já tinha passado, mas voltei para ajudar e acabei ficando também. O engraçado é que a lama é tão lisa que se parar o carro ele não consegue mais se movimentar nem um milímetro e os pneus não estão enterrados. Tivemos que cortar a cinta que unia o PRETÃO com o Chico Bento porque não conseguíamos afrouxar para tirar dos ganchos. Depois de uma hora e muita chuva, com a ajuda do guincho do Clidenor conseguimos sair. Logo mais adiante, tivemos que entrar no mangue formado pelo Rio Aracatiaçu para pegar a balsa. Novamente, por um erro de caminho, o Chico Bento embica em um buraco e fica atolado. Para a travessia deste mangue nos pontos mais críticos os nativos fazem uma espécie de balizamento e se sair dele o atolamento é certo. Novamente Clidenor usa o guincho e vamos adiante que o pior ainda está por vir.
Logo após a travessia do Rio Aracatiaçu, em Patos, tem uma pequena travessia pela planície do mangue e num dos pequenos canais que atravessa esta planície o Chico Bento atola novamente. Clidenor volta para o resgate do Chico Bento e acaba atolado no mesmo canal mas em uma parte mais profunda. Eu tento puxar e como o piso é muito liso, o PRETÃO não tem tração e também acaba atolando. Com o guincho e a âncora de um tronco consigo sair. Liberamos o guincho e com mais quatro cintas fizemos uma âncora em uma árvore. Acontece que quanto mais o guincho puxava mais o Troller do Clidenor deslizava e entrava no canal e se enterrava ainda mais. Até que o guincho hidráulico super aqueceu e quase não tinha mais forças para puxar. Resolvemos então tirar o Chico Bento e depois puxar o Troller de Clidenor para trás. O grave da situação é que a maré estava subindo rapidamente. Nestas alturas já tinha chegado diversos nativos que tentavam ajudar. O pessoal da área nos mostrou um caminho mais seguro para chegar mais próximo. Posicionei o PRETÃO para acionar o guincho e, com a ajuda prestimosa do Chico Bento como âncora, fomos puxando, mas o guincho também começou a dar sinais de ‘cansaço’. Colocamos uma patesca e aí sim, vagarosamente e com a ajuda dos nativos e depois de umas três horas e com a maré ameaçadora, conseguimos liberar o Troller de Clidenor que estava tão estressado e cansado que quando chegamos na pousada, em Baleia-CE, foi logo pra cama.
Valeu o dia novamente!

27-02-2009 – De Baleia seguimos pela beira mar. O Clidenor notou que o Chico Bento estava com um ruído muito forte na roda traseira. Paramos e vimos que a roda estava quase caindo. Provavelmente o rolamento estava quebrado. Uma pequena parada em Paracuru-CE para o mecânico verificar que era somente as porcas folgadas. Seguimos pelas praias e aí o Troller de Clidenor ficou sem motor de arranque e o pedal da embreagem não estava reagindo normalmente. Provavelmente em consequência da lama de ontem que o carro enfrentou.
O litoral cearense apresenta uma variação de praias calmas com águas ora escuras ora cristalinas, larga faixa de areia na maré baixa, dunas, mangues, matas, praias virgens, praias movimentadas, etc, é realmente encantador. Logo depois da praia de Cumbuco-CE com a chuva caindo intensamente, resolvemos seguir pelo asfalto direto para Mossoró.
Bezerra nos passou a boa notícia que Luciano está em casa e está se recuperando rapidamente e logo estará nas trilhas.

28-02-2009 – Clidenor, logo cedo, foi consertar o motor de arranque e ficou comprovado que realmente a pane foi causada pela entrada de lama e água em excesso da atolada anterior.
Mossoró-Natal em 2 horas e meia e fim da viagem. Mas antes de chegar em Natal, combinamos com alguns amigos e colegas de viagens para nos encontrar em um restaurante, especialista em carneiro. Gleide, esposa do Alexandre, que nos acompanhou em um trecho da viagem e os amigos Marco Aurelio/Suzete; Nakamura/Helenita; Figueira/Denise e Joinha, comemoraram juntos mais um sucesso de viagem, em todos os sentidos.

Trinta e oito dias de viagem, exercício de companheirismo, aventuras, conhecimentos e muita adrenalina.

2013 – Rota Huascarán: Natal – Peru, Chile e Argentina

ROTA HUASCARÁN – O nome deriva do Nevado Huascarán, montanha com 6768 m, localizado na Cordilheira Branca no Norte do Peru. É o mais alto do Peru e o quarto da América do Sul. E um dos principais objetivos da viagem seria chegar o mais próximo possível e desfrutar das belezas no seu entorno. E isto foi conseguido quando realizamos uma ‘alça’ ao redor da montanha que, por unanimidade se tornou o ponto alto da viagem!

INTEGRANTES:

De Natal-RN:
Enio/Marinês – Suzuki Gran Vitara
Alexandre/Luciana – Land 110
Marco Aurélio/Suzete – Toyota SW4
Nakamura/Helenita – TR4
Figueira/Denise – TR4

De São Paulo-SP:
Nelson/Miiriam – TR4

PONTOS MARCANTES DA VIAGEM:

Saída dia 05/09/2013
45 dias de viagem, ida e volta, partindo de Natal.
17.400km percorridos
custo: aproximadamente R$ 1,00 por km. Tudo incluido: hospedagem, alimentação, combustível, manutenção.
obs: hospedagem em pousadas medianas, às vezes ruíns por falta de outra opção e por vezes em hotéis melhores para ‘recuperar as forças’. Em compensação sempre se procurou bons restaurantes, não restaurantes finos mas restaurantes com boa comida.

– Entrada no Peru pela fronteira Acre- Assis Brasil / Peru-Iñapari. Entrada no Brasil por Foz do Iguaçu.
– A estrada Transpacífica está totalmente asfaltada e em ótimo estado – Até Cuzco
– Cuzco confirmou mais uma vez ser uma cidade especial. E o seu entorno, com suas ruínas e outras atrações, um roteiro para ser repetido diversas vezes.
– De Cuzco a Abancay por ótima estrada asfaltada e belas paisagens.
– De Abancay a Ayacucho começa estrada de rípio mas em boas condições alternando com asfalto. Belas estradas bordejando as montanhas.
– De Ayacucho a Jauja começa por estrada de rípio em um vale deserto com belas paísagens e depois segue bordejando o vale, na beira da montanha em estrada asfaltada mas muito estreita, o suficiente para um carro apenas e por isso o uso de buzina é obrigatório quando se aproxima das curvas. E sempre ficar atento para parar em determinados pontos da estrada para permetir a passagem de outro carro e não causar acidentes. Este trecho foi o mais emocionante até aqui!
– De Jauja a Huanuco por ótima estrada asfaltada e belas paisagens. Em La Quinua paramos na beira da estrada e de repente aparece uma pequena multidão e acabamos virando atração. Com direito a muita foto, troca de informação e conversa. Muito gostoso!
– De Huanuco a La Union foi onde tomamos o maior susto quando um caminhão apareceu na nossa frente em uma curva e o susto foi grande! A estrada, apesar de ser asfaltada, é bastente estreita e na maior do caminho permite apenas a passagem de um carro e a buzina tem que funcionar em toda curva fechada. Portanto, toda atenção é necessária mas a paisagem das montanhas e vales é muito interessante. Esta estrada passa por diversas cidades pequenas e povoados e o que nos chamou a atenção é que praticamente todas elas estão em obras e, para nossa inveja, as obras praticamente são para para o esgoto sanitário. Aliás, em qualquer povoado, por menor que seja, não se observa esgoto na rua! Em La Unión tivemos a oportunidade de andar nos tuc-tuc – motos que transportam até 4 pessoas além do motorista – e que é o principal meio de transporte da cidade. Também fomos visitar uma das termas da cidade mas não nos animou entrar na piscina de águas quentes por estar ‘meio’ suja.
– De La Unión a Huaraz foi um dos pontos altos em termos de paisagens. Logo na saída de La Unión passamos por um pequeno e estreito canyon onde a estrada seguia ao lado de um rio por entre as paredes íngremes do canyon proporcionando uma vista sensacional. E logo depois a travessia do Parque Nacional de Huascarán por um atalho conhecido como Ruta Pastoruri com paisagens de montanhas nevadas, coloridas, vegetação e caminhos fantásticos! Vale a pena esta travessia.
– Na região de Huaraz, em Acopampa experimentamos uma trilha bastante íngreme com curvas fechadas e muita pedra que acabamos desistindo para não comprometer a viagem com algum imprevisto mecânico ou algo pior. Mas valeu a trilha!
– Carreteras Shilla, Acochaca, Yanama e Yungay. Estes nomes são os principais povoados que circundam o Monte Huascarán. Simplesmente fantástico este caminho!! Sem dúvida foi o ponto alto da viagem em termos de paisagens. Duas subidas a 4800m, com neve, muitas cachoeiras na beira da estrada e no final a estrada faz um caracol fantástico com a visão da Laguna Llanganuco lá em baixo. Fantástico!
– De Caraz a Chimbote onde se passa pelo famoso Cañón Del Pato onde se atravessa 35 tuneis. É uma estreita estrada de rípio cortada no flando da montanha em um vale muito fechado e íngreme formado pela convergencia da Cordilheira Blanca com a Cordilhera Negra e onde está encaixado o Rio Santa. É uma sucessão de pequenos túneis de apenas uma pista e por isso é recomendado, por sinalização o uso de buzina, entremeados por pequenos trechos de estrada. Outro ponto alto da viagem pelo inusitado da estrada.
– De Chimbote a Callao pela Panamericana. Esta estrada é magnífica tanto pela qualidade da própria estrada como pela paisagem. Beirando o Pacífico, pouco movimentada, em região desértica intercalada com vales irrigados proporcionando um belo contraste entre o branco/cinza/amarelo do deserto com o verde dos vales. Outra coisa que chamou a atenção foram os inúmeros e imensos galpões no meio do deserto onde se criam os pollos – frangos, tão comum no Perú.
Preferimos ficar em Callao para fugir do movimemto intenso de Lima. Mas, como era fim de semana, conseguimos visitar o centro de Lima com tranquilidade. O centro concentra um grande número de enormes prédios antigos e muito bem conservados, praças bem cuidadas e coloridas pelas diversas flores, bem organizado e limpo. Outra visita surreal é 0 Convento San Francisco de Asis de Lima que abriga as Catacumbas do Covento sob a igreja e onde estão as ossadas de mais de 70.000 pessoas, a maior de fêmures, tíbias e crânios. A visita as catacumbas se dá por um labirinto de estreitas passagens formada por paredes de tijolos, iluminação fraca e cheiro de mofo o que pode desmotivar os mais assustados. Outra atração é o próprio convento com todos seus aposentos e a biblioteca com mais de 25 mil textos, inúmeros livros antigos e uma biblia de 1571-2. Apesar de ser um passeio bizarro, vale a pena.
– De Callao a Nazca continuando pela Panamericana acompanhando suas belas paisagens desérticas de um lado e o Oceano Pacífico de outro. Em Nazca, enquanto alguns colegas foram avistar as linhas de Nazca – nós já conhecíamos – nós ficamos visitando a cidade e apreciando a boa comida, rizoto de frutos do mar e ceviche do La Encantada restaurante.
– De Nazca para Arequipa. Neste trecho fomos surpreendidos por um TERREMOTO!! Percebemos uma pedra, de uns 50/60 cm de diâmetro que passou rolando exatamente em frente de nosso carro e aí olhando para o lado esquerdo vimos pedras rolando do barranco. Ao mesmo tempo olhando pelo retrovisor deu para perceber uma nuvem de poeira na direção onde estavão os outros colegas mais atrás. Pelo rádio nos carros vimos que todos estavam bem e ficamos discutindo se aquilo era realmente um terremoto ou simplesmente um deslizamento localizado. Mas, com a grande quantidade de deslizamentos que vimos ao longo de quilômetros da ruta, chegamos a conclusão que realmente tinhamos precensiado um terremoto. O que foi comprovado no outro dia pelas manchetes dos jornais, em Nazca. Foi um terremoto de 6,9 graus Richter e causou muitos danos em poupulações mais visinhas ao epicentro. Depois que nos certificamos do terremoto, percebemos o real perigo que passamos já que neste ponto a Panamericana não fornece nenhum tipo de possibilidade de fuga. De uma lado íngremes paredões de rocha e de outro íngremes precipícios em direção ao Pacífico. Tivemos sorte! e previlégio de presenciar este fenômeno da natureza!

Patrimônio da Humanidade, Arequipa também é conhecida como a “Cidade Branca”, pois muitos elementos do seu belo centro histórico foram construídos em silla, um tipo de pedra branca vulcânica porosa. Confira as dicas da Patricia sobre onde ficar, como chegar e quais atrações conhecer em uma das cidades mais bonitas do Peru.

Sua principal característica é a bem preservada arquitetura colonial dos séculos XVI e XVII, apesar da cidade ter sofrido vários terremotos. Arequipa possui mais de 39 igrejas ricamente decoradas. Muitos dos seus altares são cobertos de folhas de ouro (chamadas de Pan de Oro), além de imagens barrocas e altares de prata pura. Suas ruas são estreitas, repletas de casas coloniais e sacadas.  Arequipa é também conhecida como “Cidade Branca”, pois grande parte de suas construções foram feitas usando uma pedra vulcânica esbranquiçada chamada “Sillar”, encontrada em dois vulcões da região. Esta pedra tem a vantagem de ser muito resistente e ao mesmo tempo fácil de ser trabalhada. A igreja de Yanauhara é um exemplo disto. Construída no século XVI, tem sua fachada toda decorada com figuras nativas, um estilo conhecido com Barroco Mestiço.

A praça central do distrito de Yanauhara é um ótimo lugar para se observar os vulcões que cercam a cidade, alguns deles com mais de seis mil metros de altura. Dentre estes vulcões podemos citar o Chachani, Pichu-Pichu e Misti, o mais próximo, estando a apenas 17 quilômetros da praça principal

 – De Arequipa ainda pela Panamericana, pernoitamos em Arica. Pouco antes de chegar em Arica, passa-se pelas fronteiras do Peru e Chile. A saida do Peru se deu de forma tranquila mas, a entrada no Chile rendeu uma boa perda de tempo. O pessoal é muito educado e cordial mas exigem que se tire tudo que for possível de dentro do carro! e além disso tudo tem que passar pelo raio X e alguma coisa por inspeção visual dos agentes o que implica em abrir mala. Até os maiz – milho – coloridos que estávamos trazendo com suvenir ficaram retidos, com preenchimento de formulário e assinatura e, pela delicadeza do agente não fomos multados por isso.
De Arica para Calama. Em Calama ficamos no Hotel Sonesta, um quatro estrelas com promoção de fim de semana de hotel de duas estrelas. Claro que aproveitamos e desta vez ficamos muito bem acomodados. No outro dia enquanto alguns colegas sairam de madrugada para visitar os Geiseres El Tatio – já conhecíamos – seguimos para Sâo Pedro do Atacama. Fomos devagar e curtindo o visual, principalmente quando chegamos perto do Vale da Lua com suas paisagens magníficas. Apesar de já conhecermos o Deserto do Atacama, aproveitamos para passear pela cidade’ e descansar. Sempre vale a pena passar por este ícone andino.
-Do Atacama para Quebradas de Humahuaca, Jujui-AR. Este foi mais um ponto alto da viagem. Saindo de São Pedro ao Altiplano Chileno/Argentino pelo Passo Jama é sensacional em qualquer época do ano. E nós tivemos a sorte de ver ainda gelo nas montanhas e paredes de gelo de até 2 metros de altura ladeando a estrada. Marco Aurélio pegou um pedaço desse gelo e guardou para o Whiski da rodadinha. Muito, muito bonito este trajeto e por estrada impecável, tanto do lado chileno quanto do argentino. Pernoitamos em Humahuaca.
Quebrada de Humahuaca é um vale no sentido norte-sul na provincia de Jujui-AR com diversos povoados pré-incaicos com seu artesanato e histórias. A região é considerada pela Unesco como ‘Itinerário Cultural de 10.000 anos’. Purmamarca, Tilcara e Humahuaca são os principais povoados com seus artesanatos e arredores com montanhas multicoloridas, salares, desenhos pré-incaicos, ruínas e cactos gigantes.

2007 – Rota Andina: Natal – Peru e Bolívia

Este relato foi copiado (com pequena edição) do blog de nossos amigos, companheiros de viagem e principais escrivães, Suzete e Marco Aurélio com a colaboração de todos os demais integrantes da expedição.
http://rotaglacial.blogspot.com/

ROTA ANDINA – Setembro/outubro/2007
Uma viagem pelo Peru e Bolívia

INTEGRANTES:

De Natal-RN:
Enio/Marinês
– Troller;
Alexandre/Gleide
– Land 110
Marco Aurélio/Suzete
– TR4;
Nakamura/Helenita
– TR4;
Álvaro/Mara
– Land 110

De Macaé-RJ:
Túlio/Heloisa/Adriano
– Land 110
Álvaro – artiniC/Rosângela – Bandeirante (sem turbina)

De Goiânia-GO:
Cabral/Super
– Land 90

PONTOS MARCANTES DA VIAGEM: 36 dias de viagem, ida e volta de Natal.

– Ver o enorme progresso em áreas que se pensa isoladas e inóspitas, tais como o extremo norte de MT, sul do PA, RO e AC, é surpreendente!
– Ser recepcionado pelo Sr. Balzan e Sra. Rosa e mais um grupo de amigos para participar de um grande churrasco em uma fazenda no meio de Rondônia, é uma delícia!
– Ter passado pela Transoceânica ainda em construção e ver homens trabalhando 24 horas, e antever que esta será, sem dúvida alguma, considerada uma das mais belas estradas do mundo, é uma primazia!
– Conhecer o pólo incaico de Machu Pichu, Vale Sagrado, Moray, Salinas….. sempre é fascinante!
– Atravessar os Andes e atolar o carro nas areias do Pacífico é insólito!
– Ver as Linhas de Nazca de cima é espetacular!
– Vale do Colca e os Condores Andinos, fantástico!
– Ter trilhado a estrada mais perigosa do mundo, a Estrada da Morte em Coroico, é grandioso!
– Ter comido Miojo e tomar banho de balde no hotel SHERATON*****, é inexplicável!
– Pegar mais uma greve na Bolívia, normal!
– Fazer uma pequena trilha no meio da Floresta Amazônica, é emocionante!

Agradecimentos especiais: AUTO ELÉTRICA NATALENSE – Av. Romualdo Galvão, 1244 PABX (84) 3221-0606. A maior e melhor loja de material elétrico automotivo.

7/9/2007 – Partimos! Às 07h30min. Alguns amigos (Queiroz e Maria do Carmo, Joinha e Enoque) prestigiaram a nossa saída, inclusive o Queiroz e Maria do Carmo, que nos acompanharam na Rota DUNAS 2006, presentearam cada integrante desta viagem com uma boa cachaça Samanau e charuto Cubano para não faltar o combustível da “rodadinha”. Rodadinha é o nome que demos ao um gesto do grupo que, ao final de cada dia, todos se reúnem, em roda, e cada um serve uma tampinha da garrafa de cachaça para o colega ao lado. Desta maneira todos bebemoram para agradecer aos deuses o bom dia vivido ;-)). Seguimos pelo Sertão Nordestino passando por Serra Negra do Norte – RN. Chegamos a Petrolina – PE as 19h, tendo percorrido 870 km. Acomodamo-nos no hotel “Grande Rio” às margens do Rio São Francisco.

8/9/2007 – Saímos com destino à Ibotirama passando pela Chapada Diamantina, a estrada não estava muito boa. Após 740 km percorridos, chegamos ao destino, terminando o dia com a “rodadinha” e ficamos no Hotel Glória (não recomendamos).

9/09/2007 – Houve um pequeno atraso na saída, pois o Troller do Enio precisou ser reparado. O destino de hoje é Luis Eduardo Magalhães – BA passamos por bonitas cachoeiras do ‘Redondo’ e ‘Acaba Vida’. Chegando ao destino, encontramos Túlio e Adriano (estes saíram de Macaé – RJ). E batizamos os amigos com uma “rodadinha”. O jantar foi no próprio hotel com uma ótima comida! Percorremos 356 km nesse dia.

10/09/2007 – Destino: São João do Javaés – Nesse dia saímos novamente tarde por conta do carro do Enio ter dado problema. Não conseguimos chegar a tempo e paramos em Gurupi para tentar pegar autorização para atravessar a Reserva Indígena, infelizmente não deu, pois era até as 17h. Pernoitamos no hotel Veneza Plaza. O jantar nesse hotel foi engraçado, pois não podiam servir todas as refeições ao mesmo tempo por falta de pratos. Percorremos 470 km nesse dia.

11/09/2007 – Às 8h estávamos todos na FUNAI para pegar autorização para atravessar o Parque Nacional do Araguaia. No entanto, após uma longa espera o responsável nos informou que não haveria possibilidade pelo fato de duas tribos estarem brigando entre si (Javaés – TO e Carajás – MT). Ali mesmo na frente da FUNAI, decidimos qual seria o próximo destino…. Traçamos o Plano “B”, então foi decidido que seguiríamos até a cidade de Nova Nazaré. Tivemos um bom jantar, arroz e feijão super temperados em meio a muita poeira da cidade. Pernoitamos no Hotel Regina após uma justa divisão de quartos. Percorremos 557 km.

12/09/2007 – Logo cedo vimos que o pneu do carro do Túlio estava furado. Ao longo do trajeto rumo à São José do Xingu – MT, contornamos a Reserva Indígena do Xingu. Passamos por várias plantações de algodão e soja. O pneu do Enio furou com uma chave de fenda deixada na estrada. À noite comemos no Disk Caldos uma deliciosa picanha e Pacú na chapa. Este Pacú na chapa é de lamber o beiço! Uma delícia. Percorremos 404 km.

13/09/2007 – Ao amanhecer a fumaça das queimadas na região já tomava conta da cidade. O destino de hoje é Alta Floresta – MT, local onde ficaríamos dois dias se não fosse a mudança de percurso. No caminho, encontramos o prefeito de Peixoto Azevedo (localizada no município onde houve acidente da TAM alguns meses atrás). Mais adiante nos deparamos com um acidente de moto onde havia uma criança de cinco anos ferida. Prontamente nossa amiga Mara socorreu o menino (Luan), mas nada de grave aconteceu. Percorremos 558 km.

14/09/2007 – Hoje o dia começou bem cedo para nós… Saímos as 5h rumo à Colniza para chegarmos antes de meio dia para pegar a balsa. Enquanto aguardávamos a balsa, comemos um delicioso peixe frito (Trairão) as margens do Rio Jurema. Quando estávamos chegando a Mara sentiu falta de sua bolsa… Paramos o carro e começamos a procurar… E nada…. Para surpresa de todos, Marco Aurélio encontrou dentro da bolsa térmica!! Descobrimos, então, que Álvaro estava fazendo uma espécie de lavagem de dinheiro. Passamos por longos trechos de bonita Floresta Amazônica. As queimadas também foram vistas várias vezes, poluindo o ar, destruindo a vegetação, matando animais… Uma pena! Mas como diz o Enio, enquanto a gente come um suculento bife, a mata pega fogo!
Percorremos 439 km.

15/09/2007 – Hoje nosso destino será a Fazenda do Alexandre em Machadinho do Oeste. Logo mais, às 7h estaremos partindo para mais um dia de aventura por um longo trecho de mais de 300 km de estrada de terra.
Após um longo trecho de estrada de terra chegamos a Fazenda Ferradura onde fomos muito bem recepcionados com muito churrasco e cerveja. Nesse dia mais dois integrantes se juntaram ao grupo: artiniC e Rosângela com a barraca no teto do Toyota Bandeirante e claro o guincho novinho! Todos foram dormir em suas respectivas barracas (não por muito tempo se o galo não cantasse às 2h).

16/09/2007 – O dia na Fazenda Ferradura começa com cheiro do leitão recheado sendo assado. Enquanto Túlio, Adriano, Marco Aurélio e Nakamura limpavam os carros, algumas mulheres lavavam roupa, outros arrumavam os carros. A festa rolou até o final do dia com muita música gaúcha, cerveja, cachaça e um delicioso leitão recheado. O gerador foi desligado o silêncio reinou e todos foram descansar para continuar a viagem no dia seguinte.

17/09/2007 – Hoje enquanto um grupo seguiu para outra fazenda para almoçar eu (Adriano) e Túlio seguimos para Porto Velho para encontrar com Heloisa. A impressão que eu e outras pessoas da Expedição tivemos na cidade não foi muito boa. É uma capital ainda recente que cresce a cada dia. Jantamos um delicioso peixe no Remanso do Tucunaré.

18/09/2007 – O destino de hoje é Rio Branco AC. Enquanto algumas pessoas ficaram na cidade para ir mais tarde, a Land Rover do Túlio e a Bandeirante do Álvaro seguiram. Em relação a Porto Velho, Rio Branco tem uma melhor aparência. Logo na entrada alguns comércios mais antigos estavam todos pintados de cores diferentes, passamos também pela Via Chico Mendes toda decorada. Enfim esta cidade nos deixou boa impressão.

19/09/2007 – Nossa última cidade no Brasil foi Assis Brasil para atravessar a fronteira para Porto Maldonado – Peru. A viagem de hoje foi pela grande obra da estrada Transoceânica que ligará o nosso país com o Mar do Pacífico. O último carro se junta ao grupo nesse dia com Cabral e a Super. Perdemos um longo tempo na Aduana no Peru para registrar todos os carros. À noite dormimos na Cabana Quinta e jantamos por lá mesmo, tudo corria bem se não fosse Nakamura roubando o pedido dos outros. Mas tudo bem tem troco. Assim como em outra viagem, Túlio perde a tampa do combustível.

20/09/2007 – Mais uma vez todos acordaram cedo rumo à Quince Mil. Tudo estava bem se não fosse o carro do Alexandre que deu problema, a mangueira de combustível estourou no meio do enxame de motocicletas da cidade (impressionante a quantidade de motos). Bom, como todos vieram equipados para o pior o cambão do Enio foi estreado para puxar o carro do Alexandre. Enfim continuamos a viagem pela estrada de terra (em meio a muitos caminhões da construção da Transoceânica). Atrasamos de novo, agora por uma ‘Tranqueira’, obras na estrada, onde só permitiam a passagem de veículos em determinados horários. Após a longa e cansativa jornada todos nós dormimos na Praça de Quince Mil dentro dos carros. O único privilegiado foi o artiniC que dormiu na sua barraca. Ah! O jantar foi pão com ovos e café em um humilde restaurante.

21/09/2007 – A bela cidade de Cusco é nosso destino de hoje (não sabíamos o que nos esperava pela frente). Após uma excelente noite dormida dentro do carro na pequena cidade de Quince Mil, saímos bem cedo, pois mais a frente haveria outra ‘Tranqueira’ em Marcapata. Chegando lá tivemos que esperar 5 horas até que a estrada fosse liberada. Enfim às 14h45min saímos por um perigoso trecho até Cusco em meio a muitos caminhões e precipícios. No entanto, como nada é perfeito o carro do Enio teve um problema: uma pinça do freio traseiro quebrou e travou o carro. Graças a presença do nosso Magaiver Túlio, desmontamos o freio, tiramos a pinça e fechamos o circuito colocando um parafuso no cano correspondente no cilindro mestre (ideia do Guerra). Foi muito complicado fazer todo esse esforço com pouco oxigênio e no frio! Enquanto um grupo ficou consertando outro seguiu a viagem. Com aumento da altitude quase todo mundo começou a passar mal mesmo com o uso do oxigênio. A estrada cada vez pior e a cidade parecia cada vez mais distante! Chegando ao Hotel Samay um médico foi chamado para atender os doentes. Alguns jantaram no Hotel e outros foram dormir cedo.

22/09/2007 – Hoje e amanhã ficaremos na charmosa cidade de Cusco. Enquanto alguns conheciam a cidade, outros mandaram lavar os carros, outros consertavam, outros dormiam. Enfim, cada um seguiu seu rumo para aproveitar e descansar dos últimos dois longos dias de viagem.

23/09/2007 – Ainda em Cusco um grupo seguiu para Machu Pichu e outros foram visitar Moray e uma salina. Moray é um conjunto de grandes escavações mais ou menos cilíndricas e concêntricas onde os Incas faziam suas pesquisas agrícolas. A salina é bastante interessante por se tratar de uma extração de sal muito rudimentar. Chegando perto da salina foi possível vê-la de cima e parecem uns cem números de pequenos tanques brancos. Chegando lá se desvenda o mistério. O pessoal aproveita uma fonte natural de água hipersalina e represa esta água em tanques evaporadores feitos na própria rocha da montanha e depois recolhem o sal depositado. A nota triste é ver crianças com os pés e pernas brancas de sal e calçando apenas chinelos velhos. A noite quase todo grupo se reuniu no Restaurante Inka, saboreamos deliciosos pratos de truta e massas. Discutimos o trecho seguinte e finalmente decidimos ir à Nasca (havia uma dúvida quanto às condições da estrada e o tempo que levaríamos).

24/09/2007 – Saímos por volta de 8 h por uma estrada sinuosa e por duas vezes ultrapassamos a barreira dos 4 mil metros. Dessa vez todos já estavam acostumados com a altitude e ninguém passou mal. A paisagem nesse trecho foi belíssima! Sendo sábia a decisão de ir a essa cidade. Paramos diversas vezes para fotografar e fazer filmagens. Chegamos ao Hotel Alegria e jantamos lá mesmo.

25/09/2007 – Sobrevoar as Linhas de Nasca e visitar os ateliers de cerâmica foram os passeios do dia. Por 45 min vimos do alto as inexplicáveis linhas de Nasca, infelizmente há muitas marcas de trilhas, confundindo assim os desenhos. O sobrevoo feito em pequenos aviões monomotores é bastante desconfortável pra quem não está acostumado ou enjoa fácil. Algumas pessoas do grupo preferiram ficar em terra firme com medo de sobrevoar (não citarei nomes para não haver constrangimento). Uma dica importante é fazer este passeio aéreo quando o sol está em posição inclinada, isto é, de manhã bem cedo ou de tardinha para que a sombra das linhas ressalte mais os desenhos. Enquanto o pessoal estava passeando, o Alexandre foi consertar a Land com problemas elétricos que fez a bateria quase explodir. Na oficina encontrou uma Land antiga com sobre teto. O Alexandre convenceu o mecânico e dono a vender este sobre teto. Feito o negócio, colocamos as peças no bagageiro da Land e esta lataria toda veio para o Brasil!

26/09/2007 – Saímos de Nasca para Chivay. A estrada bem sinuosa como as anteriores nos mostrou algumas lindas paisagens! Já perto de Arequipa tem-se a bela vista dos três imponentes vulcões, o Pichu Pichu, o Chachani e o Misti, que guardam a cidade. Chegando a Arequipa o parafuso que prende o alternador da Bandeirante do artiniC quebrou e prontamente Guerra, Enio e Túlio trataram de consertar. Enquanto um grupo consertava o carro o outro entrou na cidade para buscar nosso guia (para Chivay), engraçado é que ele se perdeu, atrasando um pouco o encontro com o restante do grupo. Ao se aproximar de Chivay, víamos do alto a iluminação pública fazendo um desenho de um puma. Muito interessante!

27/09/2007 – Hoje estamos em Chivay, a Casa dos Condores Andinos, para visitar o Cânion de Colca e o voo dos condores. No dia anterior quando chegamos fomos a uma pizzaria na Praça de Armas, infelizmente o atendimento foi muito ruim e a comida também não foi nada agradável. Alugamos um micro-ônibus com guia para fazer a visita ao Vale do Colca e ir até onde os condores podem ser vistos mais de perto. O vale é profundo e moldado por terraços Incas muito antigos, mas ainda hoje utilizados. Os condores realmente dão um show. Até parece que já são contratados para aparecerem e dar seus voos rasantes perante a grande plateia de turistas. A visita foi pela parte da manhã e ao meio dia saímos rumo a Puno. O carro do Alexandre quis dar sinais de problemas, mas felizmente era somente a pastilha dos freios. Na estrada para Puno pegamos um pouco de chuva que proporcionou um belo arco-íris com fundo escuro de uma tempestade que se aproximava, mas que felizmente não pegamos. Chegando à cidade foi difícil encontrar o hotel (Balsa Inn) por conta do rush de carros, moto táxis, bicitaxis… Enfim uma confusão!! A noite fria terminou com todos da Expedição jantando juntos, e a comida estava muito boa!

 A partir deste ponto o relato diário deixou de ser feito pelos nossos escrivãs ‘oficiais’ e por isso vou tentar resumir o que aconteceu de mais importante e pitoresco durante nossa viagem de volta para o Brasil.

28/09/2007 – Passamos o dia em Puno. Metade do pessoal foi fazer o tradicional passeio pelo Lago Titicaca para visitar as ilhas flutuantes dos Uros. São ilhas feitas de Totora, uma espécie de junco que são amarrados e sobrepostos em camadas com espessura média de 2 a 3 metros e onde os nativos constroem suas casas. Também com estes juncos são feitas as canoas que usam para sua locomoção. É um local que vale a pena ser visitado pela sua excentricidade. A outra metade do pessoal, que já conheciam o Lago Titicaca de outra oportunidade, preferiu ficar na cidade descansando e visitando os lugares mais pitorescos.

29/09/2007 – Saímos de Puno por volta das 09h com direção a La Paz. Atravessamos o Lago Titicaca em Copacabana. Esta travessia se faz por balsa que apesar de serem grandes, carregam apenas um carro de cada vez por medida de segurança. Feita a travessia, paramos um pouco mais adiante para comer Truta e Peixe Rei que são os peixes típicos servidos na região. Já chegando à tardinha, decidimos não enfrentar La Paz durante a noite e dormimos em um hotel em Huarina. Anoiteceu e esfriou bastante o que nos obrigou a sentar junto a lareira e degustar um bom whisky. De manhã os carros estavam com gelo no para-brisa que tivemos que raspar.

30/09/2007 – Saímos em direção a Corioco, em busca da Estrada dos Yungas ou ESTRADA DA MORTE! Próximo a La Paz os companheiros de viagem Álvaro/Mara e Guerra/Selma se separaram para voltar para o Brasil por outro caminho.
Cruzamos La Paz seguindo pela parte mais alta da cidade para evitar a confusão do trânsito. La Paz é a maior cidade boliviana, está a 3660 m de altitude e é considerada a capital porque o governo está sediado em La Paz, embora oficialmente a capital seja Sucre. La Paz é a capital mais alta do mundo. Mesmo com GPS é complicado. Contratamos um taxista para nos tirar do sufoco e sair logo da confusão. Pronto! Vamos ansiosamente em direção a Estrada da Morte. Logo no começo da estrada aparece uma grande placa informando que até aquele momento, desde o inicio do ano, já havia morrido 43 pessoas! Antes da reforma da estrada morria em torno de 300 a 350 pessoas ao longo de seus 64 km e 3.600 metros de desnível. Atualmente a estrada foi toda retraçada e asfaltada, mas conserva a parte mais sinuosa e perigosa como originalmente, isto é, de terra e com dezenas de cruzes na sua borda como testemunha dos diversos acidentes. O interessante é que tem cruzes em diversas línguas, evidência de que turistas também tem que prestar atenção! Esta parte mais perigosa agora é mais usada por turistas que descem com suas bicicletas ou mesmo carros, como nós. A estrada realmente é belíssima e desafiadora, mesmo na parte asfaltada é cheia de curvas e não tem proteção lateral e os precipícios são gigantescos, chegando até a 1.000 m!
Saímos da Estrada da Morte e vamos descendo em direção a floresta amazônica boliviana. A estrada continua perigosa e poeirenta a agora com movimento de caminhões. Interessante é que aparecem pequenas placas avisando que a partir daquele ponto a mão inverte, isto é, por vezes se tem a mão normal pela direita e depois muda para mão inglesa. Quase oito horas da noite, já estamos na floresta amazônica boliviana, chegamos a Yucumo. Encontramos um hotel bastante simples onde nem todos os quartos tinham banheiro, fizemos o sorteio dos quartos e depois fomos jantar em um restaurante de posto de gasolina.

01/10/2007 – Saímos de Yucumo com intenção de chegar a Guajará Mirim no Brasil. Como já estamos ao nível da Floresta Amazônica, o calor e a poeira começam a ficar sufocantes e muitas travessias de balsas. Logo na saída fomos avisados que estava tendo um ‘bloqueo’ próximo a Guayaramerin, cidade limítrofe Bolívia/Brasil. Como gato escaldado tem medo até de água fria, ficamos preocupados com a situação. Mesmo assim seguimos viagem. Com mais informações chegando, vimos que a situação estava se complicando e ficou definitivamente angustiante quando não conseguíamos mais encontrar diesel para os carros. As TR-4 não tiveram problemas com gasolina. O que fazer? voltar? seguir? Definitivamente vamos seguir até onde der e quando não der mais acamparemos. Foi exatamente o que fizemos. Tentamos arrumar diesel em qualquer lugar e por qualquer preço, mas só conseguimos uns poucos litros. O inusitado foi quando parei em uma casa/choupana na beira da estrada e fui recebido por uma índia com seu filho nos braços, desconfiada e despida da cintura pra cima e, não sei como, conseguiu entender que eu estava querendo diesel. Para minha surpresa ela disse que tinha 10 litros, mas eu tinha que pagar um tanto, o que equivalia a três vezes o valor real. Paguei e ela me deu um galão plástico, todo sujo, com uns 9 litros, mas, como só tem tu vai tu mesmo!
Desta maneira conseguimos chegar até uns 150 km antes da fronteira.

Esta parada foi uma daquelas paradas ou um daqueles fatos que ficam marcados para o resto da vida na cabeça de quem viveu aquela situação. Chegamos a um ponto da estrada onde tinha uma placa, feita de madeira: SHERATON ****. Paramos e fomos olhar as acomodações. O ‘hotel’ estava em péssimas condições! Pedimos permissão para acamparmos na frente do hotel e fazer uso de alguma coisa que fosse possível daquele lugar. Arrumamos os carros de modo que as barracas ficassem no meio e aí começamos com a já tradicional rodadinha, seguida de whisky, vinho…. Pronto, barracas montadas, vamos agora ao jantar. Ninguém estava muito disposto a encarar o ‘restaurante’ do hotel. Pedimos permissão para usar a cozinha e uma panela para fazermos a nossa própria comida. A Marinês se dispôs a fazer os famigerados kinojo, digo, os miojos. 10 pacotes! Como todo mundo estava morto de fome, acabou sendo um banquete. Depois a Marinês nos confidenciou que ela não sabia se recusava a panela e a colher oferecida pelo estado em que estes utensílios se encontravam. A cozinha não tinha piso, era de terra batida, tinha um jabuti, galinha dentro da cozinha mais um zoológico de animais rondando lá próximo. Fazer o quê?!
Jantamos, voltamos ao acampamento, um calor infernal, fomos tomar banho. Sem chuveiro, o banho tinha que ser tomado com balde e a água retirada de um poço. A Suzete passou todo seu antigo conhecimento de como jogar a lata dentro do poço para cair de boca pra baixo e encher de água. Foi uma gozação só, muita risada!!
E o combustível? Volta e meia passava um caminhão e parava ali mesmo ou logo adiante em outra casa/restaurante (do mesmo nível, ou pior, que o nosso SHERATON*****). Decidimos abordar os camioneiros. Não foi fácil convencê-los, mas com muita conversa, regalo (cachaça brasileira) e pagando o triplo do preço, conseguimos arrumar uns 80 litros. Colocamos 20 litros e cada carro e com isso pudemos seguir viagem.

02/10/2007 – Acordamos cedo, dividimos uma porção do mato para cada casal, de maneira que o casal X poderia ocupar o mato a direita, o casal Y à esquerda, o casal Z no meio… para fazer as necessidades matinais. Depois aguardar a vez no poço de água para o banho e finalmente um café coletivo no próprio acampamento. No final das contas foi INESQUECÍVEL este SHERATON***** boliviano!!!
Pelas informações recebidas dos caminhoneiros, o bloqueio ainda persistia e ninguém tinha ideia de quando cessaria o movimento. Decidimos ir para Cobija, fronteira Bolívia/Brasil, daí Epitáciolândia já no Acre e aí seguir até Rio Branco. Esta volta nos custou uns 450 km a mais do que se fossemos direto a Guajará Mirim(RO). A boa notícia é que mais adiante poderíamos conseguir diesel das embarcações. E foi realmente o que aconteceu. Conseguimos combustível para encher os tanques, pagando mais do que o dobro do preço, e seguimos viagem até Cobija. Esta parte da Bolívia, de floresta amazônica, é uma região bastante pobre, embora ninguém morra de fome porque tem caça e pesca, bastante quente, sem muita infraestrutura, alguns grandes rios para atravessar de balsa e que são bastante caras, mas é um trecho boliviano bastante interessante de ser visitado.
Chegamos a Cobija. Enquanto rodávamos procurando hotel, o Marco Aurélio foi parado, dentro da cidade, por dois policiais completamente bêbados. Ficou um de cada lado do carro, com a cabeça praticamente para dentro do carro, o que fez o Marco Aurélio e Suzete quase desmaiarem com o bafo exalado pelos policiais, que exigiam documentação, faziam recomendações sem muito nexo, etc. Marco Aurélio ficou bastante apreensivo e não queria usar o rádio para chamar o pessoal. O que fez foi deixar o PTT apertado e aí eu consegui ouvir a conversa e deduzi que ele estava em apuros. Fui até eles mas quando cheguei eles tinham acabado de ser liberados mas acabaram me parando também. Depois de alguma conversa também me liberaram. Felizmente foi só um susto.

03/10/2007 – Seguimos em direção a Guajará Mirim. A estrada estava muito boa, belas paisagens e viagem tranquila. O que nos surpreendeu agradavelmente foi o estado do Acre que nos pareceu um estado bastante próspero e organizado. O único probleminha foi na travessia do Rio Madeira, em Abunã. Os caminhoneiros de caminhões tanques queriam atravessar por primeiro mesmo aqueles que tinham chegado depois. É que por medida de segurança, não pode viajar caminhões tanques com cargas inflamáveis junto com outros carros. No fim de algum tempo acabamos indo primeiro. Chegamos a Guajará Mirim e já nos esperava um belo churrasco de costela e um tambaqui especialmente preparados na casa do amigo Roberto. Uma delícia!

04/10/2007 – Passamos o dia todo em Guajará. Atravessamos a fronteira com a Bolívia para ir até Guayaramerin e fazer algumas compras na zona franca de lá. Como outras zonas francas, noventa por cento da mercadoria é quinquilharia. Compramos alguns litros de whisky, para repor o estoque e levar alguns para casa.

05/10/2007 – Partimos agora definitivamente para casa. Mas antes ainda tivemos uma grata surpresa. Na saída de Guajará em direção a Ariquemes, com o Balzan como guia, fizemos um desvio por dentro do Parque Estadual de Guajará Mirim. Foi uma travessia inesquecível. Verdadeiramente dentro da Floresta Amazônica, por uma estrada estreita, de terra e lama, uma verdadeira aventura o que nos animou mais ainda para a nossa próxima grande viagem/aventura que está programada para atravessarmos a Transamazônica em 2009. Depois da travessia do parque, um pouco mais de estrada de terra e chegamos a Ariquemes. A partir daí só asfalto. Acabamos dormindo em Cocoal-RO.

06/10/2007 – De Cocoal fomos dormir em Cuiabá-MT

07/10/2007 – De Cuiabá fomos dormir em Barra do Garça-MT

08/10/2007 – De Barra do Garça fomos dormir em Gurupi-TO

09/10/2007 – De Gurupi fomos dormir em Carolina-MA.

10/10/2007 – Passamos o dia em Carolina visitando as magníficas cascatas no Parque da Chapada das Mesas. Este lugar não ainda muito divulgado e conhecido no Brasil, mas é um lugar de extrema beleza. As cachoeiras são espetaculares. Vale muito a pena visitá-las.

11/10/2007 – De Carolina fomos dormir em Floriano-PI.

12/10/2007 – De Floriano fomos dormir em Patos-PB

13/10/2007 – De Patos fomos dormir em NATAL – Antes de chegar em casa, paramos em um restaurante especialista em bode e nos deliciamos comendo um ‘bode torrado’.

FIM

2005 – Rota Inca: Natal, Argentina, Chile e Bolívia

Este relato foi copiado com pequenas adaptações do blog de nossos amigos, companheiros de viagem e principais escrivães,
Suzete e Marco Aurélio com a participação direta do Cabralito e também a colaboração de todos os demais participantes da expedição.
http://rotaglacial.blogspot.com/

INTEGRANTES::

De Natal-RN:
Enio/Marinês – Troller
Alexandre/Gleide/Roberto
– Land 110
Marco Aurélio/Suzete – TR4
Nakamura/Helenita/Renato – TR4
Vera/Noel/Raquel – Land 110

De Macaé-RJ:
Túlio/Heloisa
– Land 110
Álvaro/Rosângela/Bráulio – Hilux CD

De Goiânia-GO:
Cabral/Raoni
Cabralito – Land 110

O encontro dos nordestinos com os demais componentes do grupo será em Foz do Iguaçu-PR. A partir daí percorreremos as
principais cidades do Norte da Argentina e do Chile, cruzando a Cordilheira dos Andes e a região do Deserto de Atacama. Em seguida,
atravessaremos a Bolívia passando pelo grande Salar de Uyuni. Parte do grupo seguirá para Machu Picchu, no Peru, e a outra
retornará ao Brasil, passando pelo Pantanal Mato-grossense.

PONTOS MARCANTES DA VIAGEM: 33 dias de viagem, ida e volta de Natal.

– Foz do Iguaçu – Beleza pura. Sem comentários!
– Cidade de Salta-AR – muito simpática. Tem um teleférico onde se pode ver toda a cidade de cima. Ótimo chorizo!.
– Trecho Salta-San Antonio de Los Cobres – É onde o mal das alturas começa atacar. Paisagens de tirar o fôlego!
– Deserto do Atacama – São Pedro do Atacama está despertando para o turismo (felizmente ou infelizmente?). Muito simpática e
gostosa. Vale da Lua e o próprio salar são fenomenais!
– Ser apanhado por uma tempestade de areia que jateou as placas dianteiras, faróis e para-brisas, é assombroso!
– Virar o carro tem preço sim, mas não acontecer nada com nós e o carro poder seguir viagem, não tem preço!
– Geiseres El Tatio – Demonstração que a terra respira e que pode acordar a qualquer momento. Cinematográfico!
– Atacama-Uyuni – Pra mim o melhor trecho da viagem. Praticamente o tempo todo de off road. Estrada praticamente não existe
é só caminho no deserto entre montanhas e lagoas multicoloridas. Fantástico!
– Rebocar uma Land por 30 km, ficar perdidos no meio do nada e conseguir um refúgio para dormir e escapar do frio, faz parte da aventura!
– Salar de Uyuni – Andar a mais de 100 km por hora sobre uma planície de puro sal….(haja picanha pra tanto sal!). Indescritível!
– Potosí-Sucre-Sta. Cruz de la Sierra – Trecho fantástico em termos de paisagens (e poeira) entre montanhas.
– Fugir de um bloqueio pelo esgoto da cidade é desafiador!
– Pantanal Boliviano – Muitos mosquitos gigantes!
– BRASIL. Nosso Brasil não tem igual! Cansados mas já preparando a ROTA DUNAS.

ROTA INCA – Agosto/2005
Uma viagem pela Argentina, Chile e Bolívia.

O encontro dos nordestinos com os demais componentes do grupo será em Foz do Iguaçu-PR. A partir daí percorreremos as principais cidades do Norte da Argentina e do Chile, cruzando a Cordilheira dos Andes e a região do Deserto de Atacama. Em seguida, atravessaremos a Bolívia passando pelo grande Salar de Uyuni. Parte do grupo seguirá para Machu Picchu, no Peru, e a outra retornará ao Brasil, passando pelo Pantanal Mato-grossense.

15.08.2005 – Fizemos uma reunião acompanhada de um churrasco na casa do Enio, mas a atenção estava mesmo voltada para a viagem. O Túlio chegou de Macaé e amenizou nossa ansiedade entregando as camisetas e os adesivos, então, adesivamos e preparamos os carangos para o grande dia. Vamos lá que sábado está chegando!

18.08.2005 – Nos reunimos numa lanchonete onde esteve presente a imprensa que fez uma entrevista sobre nossa expedição. Todos muito alegres, porém dava para perceber a ansiedade estampada no rosto de cada um de nós, afinal o grande dia está chegando. Confirmamos a largada para 5 horas da matina, no posto Novo Horizonte na BR-101, na saída da cidade de Natal. Os integrantes de outros estados sairão em datas posteriores, e nosso encontro está marcado para o dia 24.08.2005, na cidade de Foz do Iguaçú-PR.

20.08.2005 – O grupo iniciou a Rota Inca. Saímos de Natal passamos por Alagoinhas-BA. Na planilha, a primeira parada seria em Feira de Santana-BA, porém um problema na Land da Vera nos atrasou um pouco, mas tudo foi normalizado e chegamos em Salinas-MG.

22.08.2005 – Hoje paramos para dormir em Patos de Minas-MG, já rodamos aproximadamente 1.750 km! E haja disposição hein?! Por enquanto não estamos parando para conhecer nenhum local, aonde chegamos é para descansar e seguir viagem no dia seguinte….

24.08.2005 – Cinco dias de viagem: trecho Santa Fé-PR – Foz do Iguaçu-PR. Como de costume acordamos às 6 horas da manhã e seguimos para Foz do Iguaçu, que fica a uns 470 km de distância. Passamos por de Maringá, e apesar de cedo já havia grande movimento na cidade, estudantes se dirigiam apressados para a escola, outras pessoas para o trabalho, enfim, o trânsito era intenso, porém, como a cidade é bem sinalizada não tivemos problema em atravessá-la. Logo em seguida começou a cair uma chuva forte, o tempo ficou bastante nublado, paramos para tomar café da manhã, e aí a Marinês se deu conta que deixou no hotel anterior sua necessaire com todos seus pertences de higiene pessoal. Seguimos em frente e lá pelas 10 horas o sol apareceu e pudemos observar bem a imensidão dos campos de trigo, cenário que compôs o resto da nossa viagem. Ao meio dia cruzamos a cidade de Cascavel, logo depois fizemos contato, pelo rádio, com o Túlio e o Álvaro que estavam vindo de Macaé-RJ. Aguardamos um pouco e antecipamos o encontro que aconteceu no meio da estrada. Seguimos com destino a Foz, agora um comboio de sete carros, chegamos às 15 horas. Renato, que veio de São Paulo-SP e Roberto que veio de Passo Fundo-RS, já nos aguardavam no hotel. Noel, Raquel e Helenita, também chegaram logo em seguida. No Hotel Recanto Park fomos recebidos com drink de boas vindas, e a noite nos reunimos para confraternização. Estamos aguardando a chegada de Cabral que está vindo de Goiânia-GO.

25.08.2005 – Foz do Iguaçu. Após nossa confraternização que ocorreu ontem na churrascaria Show Rafain, hoje foi um dia de relax. Pela manhã atravessamos a ponte da Amizade e fomos à cidade Del Leste no Paraguai. Acabamos comprando quinquilharias, aquelas muambas que você jura que não vai comprar e acaba não resistindo às tentações dos preços baixos. Vamos ver se funciona mesmo! Na ponte é tanto sacoleiro transitando, que mais parece um formigueiro. Na volta fomos direto para o Parque Nacional do Iguaçu, lá mesmo nos servimos de um farto buffet, e lá pelas 16:00h descemos para apreciar o show da natureza que são as cataratas. Lá aguardamos o por do sol, fizemos algumas fotos do grupo e voltamos para o hotel para reorganizar as bagagens, pois amanhã começa de fato a expedição 4×4 Rota Inca.

26.08.2005 – Trecho Foz de Iguaçu – Presidente Roque Saenz Peña. A grande expedição Rota Inca começou verdadeiramente hoje onde estão reunidos os oito carros em comboio. Saímos de Foz do Iguaçu às 7:45 h da manhã num frio de 13 graus. Primeiro passamos na aduana brasileira, onde fomos recebidos por um guarda nordestino (de Recife) que como era novato na função acabou sendo muito minucioso na conferência dos nossos equipamentos e atrasou um pouco a nossa viagem. Declaramos todos os equipamentos eletrônicos, depois passamos na aduana Argentina o que nos levou mais um tempinho parados. Paramos em vários pedágios na Argentina e por vários postos de fiscalização policial, como tínhamos declarado tudo na saída do Brasil, facilitou nosso trânsito. Passamos na cidade de Wanda-AR conhecida pelas suas pedras semipreciosas, cruzamos toda a província das Missões e entramos nas províncias de Corrientes e Chaco, que mais parecem com o nosso pantanal. Durante todas as nossas paradas pessoas se agrupavam querendo mais informações sobre a nossa expedição. Chegamos à cidade de Presidente Roque Saenz Peña às 21 horas, percorrendo hoje 813 km.

27.08.2005 – Saímos de Saenz Peña às 7:15 da manhã, poucos minutos depois do sol raiar de fato. De estômago vazio e após quase 90 Km de estradas um tanto quanto “brasileiras” paramos para fazer o duplo abastecimento. Em meio a uma planície imensa com vegetação meio cerrado meio caatinga, rumamos numa reta infinda, cheia de pássaros, cabritos, porcos e (pasmem!) jumentos. Parados pela polícia em busca de “collaboracion”, fingimo-nos de bobos e seguimos rumo a um verdadeiro off-road “on road”. Monotonia vai, monotonia vem, a estrada melhora e às 12:45 avistamos pela primeira vez a cordilheira ao longe (bem baixa). Duas horas se passam de muito visual e montanhas até que chegamos a Salta, capital da província homônima. Nesse meio tempo, percebemos que fomos enganados com diesel batizado. Mais de uma hora procurando o hotel onde estão hospedadas Heloisa (esposa do Tulio) e Gleide (esposa do Alexandre) que vieram de avião, finalmente as encontramos mas não havia vagas para todos. Com isso, Álvaro, Nakamura e Cabral se separam do resto do grupo, sendo que Cabral e o filho ficaram sozinhos, na correria resolvendo problemas até a uma e meia da manhã. A porta da Land estava emperrada e tiveram que trocar a fechadura. A praça principal, é belíssima, iluminada, cheia de edificações antigas, e frequentada pela hi-society da cidade além de, claro, turistas e crianças pedindo moedas.

28.08. 2005 – Trecho Salta – Cachi. Acordamos às 6 da manhã e terminamos a organização. Às 9 já estávamos de saída para Cachi, com toda a turma reunida. 40 minutos e 3 cidadelas depois a poeira já começava a subir. Problemas técnicos nos fizeram parar 3 vezes em 40 minutos, 2 relativos a um curto-circuito no jipe do Enio e outro no tambor de água do jipe do Cabral. Nisso, já estávamos num off-road entre grandes morros e visuais. Mais uma parada para fotos numa velha ponte e daí segue-se viagem pelo pé de uma montanha. A partir daí vamos ganhando altitude costeando morros de formações e aparências distintas, boa parte deles com cáctus (cardón) dos pés ao topo. Paramos numa cabaninha, comemos empanada doce e compramos folha de coca e nozes. A subida agora passa a ser mais íngreme e logo atingimos 3000 m de altitude. Paramos num mirante para fotos. Adentramos logo em seguida no Parque Nacional de los Cardones mas tivemos de voltar pois o trajeto para veículos estava em recuperação. Havia muitas ovelhas comendo o pouco mato seco que restava no parque. Os jipes engasgavam pela falta de ar o que obrigou alguns a acionar a reduzida num certo trecho. Passamos então pela Piedra del Molino, a 3348 m de altitude, ponto mais alto até aquela altura da Rota Inca. À 13:45 avista-se pela primeira vez a neve na cordilheira ao fundo. Novos visuais e ainda mais belos (acredite se puder!) no caminho para Cachi. Entramos novamente no asfalto, numa rodovia entre campos de cáctus e montanhas por todos os lados, estamos no deserto. 30 Km depois chegamos em Cachi, uma pacata e rústica cidade, seca e desértica, às vezes meio fantasma. Passamos num hotel mas preferimos acampar, enquanto Cabral e filho ficaram no albergue. Cabral passou mal e dormiu até o outro dia, num total de 16 horas consecutivas. Todos se instalaram e ficaram gastando tempo até as 18:30, quando fomos à internet e ao artesanato e depois ao restaurante, onde ficamos várias horas até voltar para o camping e dormir. À noite o vento parecia querer levar as barracas com tudo dentro, e aí ficamos sabendo o que realmente significa ‘rajada de vento’. É um vento fortíssimo que dura poucos momentos e depois vem a calma para mais uma vez soprar forte levantando areia contra as barracas o que criava um efeito fotoeletrostático (luzes faiscavam ao tocar a lona da barraca). Além disso, até um galho bem grosso despencou entre duas barracas e por sorte não feriu ninguém.

29 .08. 2005 – Trecho Cachi – San Antonio de los Cobres. O Sol aparece, às 7:30 quase todos já estão acordados e às 10 já estão todos alimentados e partem rumo a San Antonio de los Cobres. No caminho, enfrentamos muito cascalho e curvas sinuosas. Passamos entre lindos morros e montanhas, inúmeras formações de areia, rios e riachos de degelo, além de picos nevados de até quase 6000 m de altitude. Numa certa altura do trajeto o gelo passa e ser comum, no chão, nas paredes e nas pedras. Avista-se estalactites de gelo e também os “ventisqueros colgantes”, espécie de geleira de grande altitude, um rio congelado descendo por entre as entranhas da montanha. “Cabralito” (filho de Cabral) , se aventurou numa comprida cascata de gelo a 4500 m de altitude, num verdadeiro “Sky Bunda” nas alturas e se deu mal. Além de ficar com um belo e enorme “roxo” logo abaixo de sua nádega direita, sofreu leves cortes e perdeu seu par de chinelos, que deslizaram mais ainda pela ladeira de gelo abaixo. Ficou fraco e com muita falta de ar, mas mesmo assim criou forças para procurar o chinelo, encontrando, porém, apenas um dos pés. Após esse tragicômico episódio, alcançamos 4895 m de altitude, a maior de toda a Rota Inca, ponto que não será mais atingido (feliz ou infelizmente), o que causou faltas de ar (alguns companheiros tomaram doses de oxigênio, recomendado a essa altitude) e dores de cabeça. Muitas lhamas, guanacos, jumentos e cabras se alimentavam nas encostas das montanhas. Enfrentamos ventos fortes e frios, além de curvas fechadas e pista estreita na descida em direção a San Antonio. Chegamos na cidade às 15:30 e fomos direto a Hosteria de las Nubes, a principal da cidade. Os companheiros Túlio, Heloísa, Noel, Raquel e Vera ficaram hospedados numa casa de família, por falta de hospedagem hoteleira na cidade. A cidade com menos de 2500 habitantes é muito pobre, seca, e tem muitas tempestades de areia, o vento é fortíssimo e sopra areia para todos os lados. O resto do dia foi pacato, muitos passaram mal e alguns tiveram força para jantar.

30 .08. 2005 – Trecho S. A. de los Cobres – San Pedro de Atacama. Com o café começando tarde, acabamos saindo só às 9:45 e começamos o trajeto errado. Logo demos meia volta e pegamos as rodovias 40 e 38 em direção a Susque, na província de Jujuy. No horizonte avistava-se uma gigantesca nuvem de areia e logo estávamos dentro dela. Num altiplano entre montanhas “baixas”, passamos próximo ao Salar de Salinas Grandes, o 1º de muitos da viagem. Nessa passagem o companheiro Álvaro teve seu pneu furado, o que deu tempo para alguns conhecer o mini povoado de Cobres, que assim como San Antonio já abrigou minas de cobre há séculos atrás. Logo chegamos no asfalto e com 36 Km já estávamos em Susque, após inúmeras curvas sinuosas, subindo e descendo montanhas. Tomamos rumo para o Paso de Jama e San Pedro de Atacama, nosso destino final do dia. Mais tempestade de areia e salares no caminho para o Paso de Jama, fronteira com o Chile. Com isso nos despedimos da parte argentina da expedição, passando antes pela aduana do país “hermano” (com certeza a Argentina vai nos deixar saudades devido a suas lindas paisagens, geografia, povo acolhedor e hospitaleiro e os preços camaradas, principalmente dos pedágios e da cerveja, além é claro, de seu bife de “chorizo”. Adentramos o Chile e não víamos nada além de sal, areia, vulcões desativados, montanhas e a estreita faixa de asfalto. Nada de aduana mas a temperatura externa já estava abaixo de zero. Os motores titubeam em trechos que chegam à altitude de 4600 m. Chegamos a San Pedro ao entardecer e passamos pela aduana chilena. Depois saímos em busca de alguma estadia e conseguimos uma pousada para todo o grupo, coisa rara na nossa expedição, e um descontinho também, já que tudo aqui é caríssimo. Saímos todos para comer, tomamos um vinho e fomos dormir. O céu de San Pedro é muito bonito, a estadia de 20 dólares por uma caminha gostosa vale a pena. Amigos, estamos em Sâo Pedro de Atacama, uma cidadezinha no meio do deserto gelado.

31.08. 2005 – No nosso primeiro dia aqui nos organizamos para visitar o grande Salar do Atacama e quando estávamos a caminho, fomos atingidos por uma tempestade de areia e escutamos através de uma emissora de rádio local que era recomendável não adentrar no deserto. Voltamos praticamente sem visibilidade alguma e ficamos no hotel curtindo o frio e o vento que não parava, e aproveitamos para degustar os vinhos chilenos. Aliás, degustar não, acabamos com o estoque de vinho da pousada!! A tempestade de areia foi tão forte que fez com que as placas dianteiras dos carros ficassem totalmente brancas. Por incrível que pareça a Vera tinha em sua bagagem uma lata spray de tinta preta. Além das placas, os faróis e para-brisas ficaram opacos e tivemos que trocá-los posteriormente.0– Contratamos um guia local e fomos acompanhados ao Salar e as Lagunas Altiplanas.

01.09.2005 – Hoje fomos visitar o salar do Atacama, um de nossos principais objetivos da viagem. É considerado o deserto mais alto e mais árido do mundo. Apesar de o clima ser extremamente seco, já foi registrado 400 anos sem chuvas!, há presença de rasos lençóis d’água proveniente do degelo onde a fauna local, principalmente os pássaros buscam seu alimento. Como é um parque, paga-se entrada para caminhar sobre o salar e desfrutar de uma pequena infraestrutura turística no local. Vale a pena!

02.09.2005 – Acordamos às 4 horas da manhã sob um frio de 0 grau e fomos apreciar o espetáculo dos geiseres El Tatio que fica a uns 95 km de San Pedro de Atacama. A estrada é muito bonita, passamos por montanhas nevadas, rios e lagos congelados. Chegamos ao local às 7 horas da manhã e os geiseres já estavam soltando fumarolas. O visual é lindo e deixou-nos maravilhados diante de tanta beleza. São jorros de fumaça quente brotando do chão formado por lavas vulcânicas. A medida que o sol foi nascendo por trás da cadeia de montanhas, foi dando um colorido todo especial. Tomamos o nosso café da manhã lá mesmo e por volta das nove horas, quando a intensidade dos geiseres já havia reduzido, tomamos nosso caminho de volta, com intenção de visitarmos outras atrações nos arredores. Voltávamos por uma estrada contornando a costa de uma montanha, Cuesta Chita, uma estrada de rípio com sucessivas curvas. Nossa atenção estava redrobada por recomendação do nosso guia, mas o carro do companheiro Enio derrapou numa curva de muito cascalho e capotou, mas nem ele nem a Marinês sofreram nada fisicamente. Apenas os danos materiais do Troller, que estragou a lateral, o vidro lateral e o pneu. Desviramos o carro, trocamos o pneu, improvisamos um vidro (com plástico e fita adesiva), e quando o Enio ligou a ignição o carro funcionou. Seguimos para a cidade mais próxima, Calama para realinhamento das rodas e reposição do vidro. Também fizemos um BO junto a polícia chilena, para evitar algum contratempo na nossa saída do Chile. Enquanto aguardávamos o conserto do carro, fomos ao super mercado local e nos abastecemos para a nossa próxima etapa, Bolívia.

03.09.2005 – Levantamos bem mais tarde, lá pelas 10 da manhã, o que demonstrava que o dia seria tranquilo. A maioria ficou arrumando suas “tralhas” e depois fomos almoçar. Saímos tarde do restaurante e voltamos para o hotel para “fazer hora”, aguardando o momento para conhecer o Vale da Morte e o Vale da Lua. Essa foi a atração mais próxima de San Pedro que visitamos. O Vale da Lua é ideal para se ver o pôr do sol. Porém, para se ter esse prazer e esse visual, tem-se que vencer duas grandes dunas, uma subida que leva aproximadamente 45 minutos. O caminho é estreito, para uma pessoa apenas e se dá pela “crista” da duna, pois é proibido sair da trilha, a fim de não afetar o ecossistema. Às 20 h já estavam todos de volta, e começamos o preparo de um churrasco, o 1º da expedição, quando o vento deu uma trégua. No dia seguinte partiríamos para a Bolívia.

04.09.2005 – Acordamos bem cedo para passar pela aduana antes dos ônibus de turistas, mas ela só abriria às 8 da manhã, o que nos fez esperar cerca de 1 hora. Em compensação, o serviço alfandegário foi rápido e às 8:30 já estávamos de saída para a Bolívia, despedindo-nos do Chile, um lugar de pessoas acolhedoras, educadas e bem-humoradas. Conhecemos vulcões, lagunas, geisers e salares, numa região de deserto altiplânico, situado entre uma cadeia de vulcões (55 só na região II do Chile, a qual pertence San Pedro) em cima dos Andes e outra cordilheira (a do Pacífico) mais baixa, tudo isso com altitudes variando entre 2300 e 6000 metros, no topo dos picos. Passamos pela aduana boliviana (dois dólares por pessoa) e partimos rumo a Uyuni. Logo depois adentramos a área da Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa, com sede em frente a belíssima Laguna Verde (5 dólares por pessoa). 70 quilômetros depois passamos pela identificação de veículos, a mais de 5000 m acima do nível do mar, batendo o recorde, até aqui, de altitude da Rota Inca, o que causou forte mal-estar na maioria do pessoal, alguns já respirando com auxílio de oxigênio. Dali descemos rapidamente (o mal da montanha não tem remédio) em direção à maravilhosa Laguna Colorada, abarrotada de flamingos, camelídeos (lhamas e vicunhas), sal e gelo. O visual é impressionante. Mesmo depois do que vimos na Argentina e no Chile, as belezas naturais bolivianas conseguiram nos surpreender. A partir daí, foi só aventura. Não era mais uma estrada, uma pista, e sim um deserto inóspito num altiplano gigantesco e sem vida, entre montanhas e vulcões. A paisagem alternava com dunas, campos de pedras e areia grossa. Quando os caminhos confluíam para uma trilha mais marcada, eram pedras ou “costelas de vaca”. Passamos no meio de um santuário de pedras esculpidas pelo vento e pelo tempo, onde a atração principal era a “Arbol de Piedra”, que adquiriu o belo formato de árvore devido a ação do vento. De repente o Defender do Alexandre “morre”, sem explicação. Depois de várias tentativas de conserto, sem sucesso, amarramos o jipe com cinta de tração na 90tinha do Cabral. Andamos umas 6 horas, com velocidades variando entre 5 e 90 km por hora, mesmo com o jipe rebocado. Os companheiros Álvaro, Marco Aurélio e Nakamura seguiram à frente rumo a Uyuni, para tentar agilizar hospedagem e socorro inclusive porque o primeiro também já estava com problema de bateria, mas também tiveram contratempos, soubemos no dia seguinte quando os encontramos em Uyuni. O desespero para quem ficou só aumentava, principalmente depois de escurecer e descobrirmos que o caminho não seria concluído a tempo, devido a dificuldade de alguns trechos e a distância de qualquer recurso. Isso nos fez pensar até na possibilidade de dormir no deserto, no meio do nada. Até que lembramos de uma placa vários quilômetros atrás, numa bifurcação, que indicava uma Associação de mineiros e uma pousada. O desespero aumentou mais ainda quando, após voltar e percorrer a trilha por maior distância do que o indicado, não encontramos, a suposta pousada. Uma bifurcação no topo de uma longa subida sobre pedras nos fez parar para uma conferência e decidir o que fazer: aguardar o amanhecer dentro dos carros, já que a falta de lugar para acampar, o vento e o frio não deixavam alternativa, ou deixar o jipe do Alexandre e tentarmos seguir em frente, à busca da estrada leste para Uyuni e retornar no dia seguinte com resgate. Resolvemos explorar um pouco mais as duas trilhas montanha abaixo, por mais uns dois quilômetros, antes de tomar uma das medidas. Enio e Túlio enveredaram cada um por uma delas. Enquanto aguardávamos, os colegas que seguiram adiante voltaram a contactar pelo rádio, depois de muito tempo sem sinal. Não tinham conseguido acessar a estrada para Uyuni ainda, mas estavam em movimento. Assim que saíram do alcance, o colega Túlio avisa que encontrou uma luzinha e, ao se aproximar, constatou que se tratava da tal “pousada”, uma espécie de abrigo para montanhistas com quartos coletivos e que tinha espaço para todos. Finalmente ela estava lá, aos pés de um grande vulcão, a quase 4500 m de altitude. Totalmente exaustos, dormimos do jeito que estávamos, logo após bebemorarmos com um delicioso vinho chileno. Ninguém se queixou da rusticidade do abrigo. Este dia não sairá da memória!

05.09.2005 – A noite foi fria, a ponto de atrapalhar o sono. 5 graus negativos. Às 9:30 estávamos na estrada rumo a Uyuni, acelerados. Descobrimos que o problema do jipe do Alexandre era o fusível do cortador automático do combustível, resolvido graças à engenhosidade do Túlio “MacGyver”. Cerca de 200 Km de estradas de condições variadas, chegamos a Uyuni, pouco após avistar montanhas “flutuando” no horizonte, efeito da luz do sol refletindo no salar, algo semelhante com miragens de deserto, produzindo um visual impressionante. Encontramos os companheiros que já estavam na cidade e fomos almoçar. Soubemos então que, além de se desviarem da rota e terem que abastecer à noite no frio do deserto, o Álvaro achou por bem furar mais um pneu (o 3º em 6 dias!). Decidimos não ir ao Salar de Uyuni devido ao horário, então abastecemos, fomos ao cemitério de trens da cidade e depois ao centro, comprar agasalhos e acessórios locais para o frio e comer. Voltamos às 10 e fomos dormir, nos preparando para passar o dia de amanhã no grande salar de Uyuni.

06.09.2005 – Na entrada do Salar de Uyuni, barracas de artesanato simples, mas típico, principalmente as pequenas esculturas em pedra de sal. Compramos algumas lembranças. Já rodando sobre o mar de sal sólido, passamos por uma área de mineração de sal. Curiosos montes de sal grosseiramente raspado formam pequenas pirâmides. Chegamos ao curioso hotel de sal Playa Blanca, todo construído de blocos de sal, inclusive os móveis. Dali partimos para a chamada Ilha do Pescado, devido a sua forma. Formações curiosas de corais e cardones (grandes cáctus) que crescem à razão de 1 cm ao ano, além das grutas, são as principais atrações, mas a vista do topo da ilha é deslumbrante. Ela é uma das mais de 50 do arquipélago que emerge do salar, que tem uma extensão de 12.000 km quadrados, com espessura de 3 m nas bordas até 120 m mais para o meio. Um almoço leve no pequeno restaurante proporcionou um descanso e energia para enfrentar o restante do passeio. Como o salar está a uma altitude de 3600 m, qualquer esforço produz cansaço. Diferentemente do salar de Atacama, aqui o sal não se mistura ao solo, argila e outros minerais -ele é puro, quase liso e onde há rugosidades ou montículos, eles são de sal. Nos deslocamentos, apesar da trilha em tom escuro deixada pelos pneus, cada um faz o trajeto que quiser. Incrível imaginar que você está rodando a 120 km por hora em cima de um mar de sal! Em dado momento, alinhamos os 8 veículos lado a lado para fotos e filmagem a alta velocidade. No verão o salar é coberto por uma lâmina d´água de até 30 cm. O deslocamento, só de 4×4, deve ser emocionante. Visitamos um lugar chamado Cueva del Diablo numa das bordas do salar, onde a água ainda não havia secado totalmente (persistem alguns locais pantanosos depois da inundação anual). Cavernas com formações calcárias e noutra um cemitério com múmias pré-incaicas em algumas tumbas, nos põem a imaginar como viviam os nossos ancestrais. Impossível ficar indiferente, ainda mais em meio a grandeza exuberância da natureza, seja o deserto, a cordilheira ou o céu desses lugares. De volta a Uyuni, desviamos um pouco para passar na ilha Tunupa, formada por um lindo vulcão de mais de 5.000 m, com alguns povoados ao pé. Uma trilha que só pode ser galgada por 4×4 nos leva a mais um cemitério de múmias e uma vista de tirar o fôlego, já curto devido a altitude. Já no escuro, deixamos o deserto de sal, não sem antes pararmos para apreciar a noite e o lindo céu estrelado.

07 .09. 2005 – O dia amanheceu menos frio, mas igualmente muito seco.Os lábios, mas principalmente as mãos doem e se ferem por qualquer coisa e às vezes até espontaneamente. Desde que subimos a cordilheira, a partir de Salta, temos sentido a rudeza do frio, da secura e da altitude. A cada dia uma pessoa manifesta uma reação diferente à altitude, já aconteceu de tudo, diarreia, dor de cabeça, astenia e falta de ar, náuseas e tonteira. Haviam nos alertado para as dificuldades do trajeto até Potosi, mas apesar das péssimas condições do cascalho, o que torna mais lento o deslocamento é o relevo, com curvas muito perigosas e ausência completa de sinalização. Tudo ia bem, quando, num retão do deserto, com pista um pouquinho melhor, o jipe do Alexandre, o gaúcho do nordeste, fica sem freio. Voltamos a rodar duas horas depois, após mais uma intervenção decisiva do Túlio McGyver. Depois de mais de 100 km, novas elevações abrigavam pueblitos típicos, mas igualmente isolados, sempre ao longo da trilha. Um pouco mais de verde e água em vales habitados. Percebemos que estamos atravessando a chamada cordilheira oriental, aquela que não deixa a umidade chegar à cordilheira ocidental, contribuindo para o clima desértico que enfrentamos até agora. Avistamos as primeiras nuvens que, no frio da montanha, se transformam rapidamente em neve e muito granizo. Apesar da beleza que proporcionam, molham o rípio, que vira lama. Não deu outra: numa subida, dois ônibus atravessados, um deles atolado, já provocando fila nos dois sentidos, porque o tráfego começava a aumentar. Graças a um verdadeiro mutirão, abriu-se uma brecha e conseguimos passagem, curtindo a beleza do contraste entre o escuro dos picos e a brancura do gelo, já com pista seca de novo. Chegamos a Potosi ao final da tarde, ainda claro, em meio a um trânsito caótico e uma barulheira infernal (depois de tantos dias no silêncio do deserto). Deu tempo para troca de óleo (que na Bolívia, não se faz nos postos!), compra de pneus (Álvaro) e atualizar o diário na Internet e, finalmente, o jantar de despedida.
Potosí, a cidade mais alta das Américas (4070 m). O povoado original foi fundado em 1545, após a descoberta casual da prata pelo índio Diego Hualpa, no vulcão Sumaj Orcko, ou Cerro Rico (5183 m), ao lado da cidade. De uma população inicial de 3000 índios e 170 espanhóis que vieram de Colque Porco, área de mineração que atravessamos no caminho, liderados por Vilarro, Zenteno e outros, que tomaram posse da região em nome de Carlos V (então imperador também da Espanha), atingiu mais de 125 mil pessoas em 1560. Como comparação, Londres tinha 100 mil, Paris 60 mil e Madrid 10 mil. Sevilha , a maior cidade da Espanha e Lima, então capital do Vice-Reinado na América, tinham 45 e 38 mil habitantes, respectivamente. Hoje com 142 mil habitantes, Potosi chegou a 160 mil em 1610. Incrível engenharia de abastecimento de água, administração e outros serviços se instalaram para atender à explosão demográfica.

08.09.2005 – O grupo se dividiu, Ênio, Marco Aurélio e Nakamura começam a viagem de volta para o Brasil. Os demais: Alexandre, Tulio, Álvaro, Noel e Cabral seguiram para o Perú (Machu Pichu). Para ler a saga destes aventureiros na volta para o Brasil, vá ao blog: http://rotaglacial.blogspot.com/

Após a nossa separação em Potosi, seguimos para Sucre em uma viagem com grandes atrativos em termos de paisagem, com estrada asfaltada e bastante curvas em relevos acentuados. Sucre é uma cidade muito bonita e interessante. Ficamos hospedados em um hotel 5 estrelas mas barato. Fizemos compras, principalmente artigos de prata ( a Marinês adorou) e um rápido city tour. Saímos a noite para um belo jantar com direito a chopp Paceña. Saímos de manhã cedo com destino a Sta Cruz de la Sierra. A estrada começou já ruim com muita poeira e curvas. Na cidade de Aquile, encontramos os já famosos bloqueos bolivianos. Tivemos que deixar os carros e caminhamos uns 4 km para encontrar alguém com quem pudéssemos conversar e nos liberar para seguir caminho. Não conseguimos convencer ninguém. Esperamos mais um tempo e com a ajuda de alguns caminhoneiros conseguimos furar o bloqueio, passando por cima de alguns obstáculos e entramos na cidade. Abastecemos os carros e seguimos viagem. Barreira na saída também! Mais horas perdidas. Conversa com os sindicalistas e nem papo. Depois de algumas horas, uns caminhoneiros nos deram a dica que poderíamos desviar o bloqueio por um caminho alternativo que nossos carros 4×4 não teriam problemas. Lá fomos nós procurar o tal caminho. Pedíamos informações mas ninguém queria ajudar. Finalmente descobrimos o possível caminho. Começamos a rodar, em um verdadeiro off road, e descobrimos que estávamos andando em um leito seco de rio onde o esgoto da cidade corre. Após muitos buracos, pedras e mer……conseguimos ultrapassar esta última barreira. Isto tudo nos tomou umas 6 horas. Seguimos viagem e não pudemos chegar em Sta Cruz. Acabamos dormindo em Saipina . Esta parada foi bastante divertida. A cidade de Saipina se resume a uma rua principal, não asfaltada, com meia dúzia de casas (ou barracas?) comerciais onde se vende de tudo. O hotel, com certeza o único, “14 de setiembre”, tinha uma televisão na entrada que mais parecia uma tela de cinema de tão grande, 90/100 polegadas! e o piso era quase de chão batido! Nos quartos tinha cortinas mas transparentes que a Suzete apropriadamente chamou de “cortinas eróticas” e um só banheiro para todos. Meia noite, todo mundo no maior sono, uma banda marcial começa a tocar. Acordamos assustados mas ao mesmo tempo começamos a rir da situação. Imaginem uma banda marcial completa nos teus ouvidos! No dia seguinte perguntamos ao dono do hotel o que foi aquela banda e ele nos disse que foi comemoração pelo aniversário da mãe dele. Aí percebemos que a preparação de comida para a festa estava a todo vapor.

10.09. 2005 – Saímos de Saipina -BO com intenção de dormirmos em São Jose dos Chiquitos-BO. Muitas curvas e a maior concentração de poeira de toda a viagem, um caminho demorado mas mesmo assim lindo. Resolvemos apenas atravessar Santa Cruz de La Sierra, pois já estávamos atrasados devido as condições da estrada. Logo depois, paramos para abastecer e comer um PF em um posto de gasolina e seguimos em frente. Alguns quilômetros adiante de Sta Cruz encontramos o trânsito parado e já tomamos um susto pensando que era mais um “bloqueio”. Chegamos na saída da cidade no horário que passa o Trem da Morte, ambos os transportes rodoviário e ferroviário passam pela mesma ponte. Como é uma ponte estreita para duas mãos eles liberam primeiro uma mão e depois a outra. Com o grande movimento tivemos que esperar mais de uma hora. Finalmente pegamos o ramo rodoviário para Corumbá. Já começa com muitos buracos e muita poeira novamente. Mais um atraso na nossa viagem. Neste trecho o Marco Aurélio estoura dois pneus ao mesmo tempo quando passou sobre uma pedra. Sorte que o Nakamura tinha um estepe também. O problema agora era como trocar os pneus debaixo de um verdadeiro ataque de mosquitos. Não apenas pernilongos como nós conhecemos aqui no Brasil, eram duas vezes maiores e famintos. A Marinês e a Suzete ficaram dando toalhadas no ar para amenizar a situação. Procuramos uma borracharia para ficar com pelo menos um estepe. Mais atraso! Seguimos viagem mas a noite caiu logo e tivemos que pernoitar próximo a um posto sanitário de beira estrada, dentro de nossos carros no meio de vacas e alguns caminhões. Foi uma noite longa e cansativa. O Nakamura deixou as portas do carro abertas durante a noite devido ao calor e os mosquitos não deram trégua. Ah sim, esqueci de falar dos pedágios. Depois de pagarmos pelo trecho que iríamos rodar (os oficiais), a cada novo que passávamos, era solicitado uma colaboracion (obrigatória) de 10 bolivianos por cada carro, para ajudar na compra da coca.

11.09.2005 – Acordamos cedo e logo partimos, sem café da manhã. A estrada melhorou um pouco e a partir de San Jose dos Chiquitos começou o asfalto (cimento) mas ainda não se podia transitar. Foram cerca de 50 km andando ao lado do asfalto e 30 km sobre ele!! Terminado o asfalto, mais terra e começou a chover o que deu um pouco mais de emoção ao trecho com algumas escorregadelas e algum barro. Finalmente Puerto Soares! Atravessamos as aduanas boliviana e brasileira já fechadas e fomos dormir em Corumbá para no outro dia retornar e legalizar os passaportes. Ah! já ia esquecendo, quando estávamos chegando em Puerto Soares, tinha um pedágio e mais uma vez, depois de tantas, fomos solicitados a dar uma “colaboracion” de 10 bolivianos por carro.

12.09.2005 Após três dias de mais aventuras, estamos no Brasil. Corumbá. Café da manhã como no Brasil não existe! Voltamos a Bolívia para acertar a documentação e aproveitamos para passar pela zona franca para comprar mais algumas coisinhas. Adivinhem o que aconteceu na aduana Boliviana?! Mais uma “colaboracion” de 10 bolivianos por pessoa ou 3 dólares. Novamente em Corumbá, almoçamos e partimos para o Pantanal. Muitos pássaros, tuiuiús, jacarés, etc, mas com o frio eles também não estavam muito a vontade. Encontramos um ótimo lugar para fazer um camping e acordar com a bicharada do pantanal mas em consideração a faringite e muita tosse do Nakamura, resolvemos procurar um hotel e acabamos dormindo em Miranda. A noite comemoramos mais um dia de viagem com um bom vinho chileno de nosso estoque.

13.09.2005 – Nordestinos: Deslocamento por estrada asfaltada tipicamente brasileira, isto é, alternância de estrada ruim com trechos bons. Passamos por Campo Grande para deixar o Renato Nakamura na rodoviária com destino a São Paulo. A curiosidade das pessoas ao ver os carros enlameados até o teto é geral e muitos fazem perguntas sobre o roteiro e a viagem. Após mais um dia exaustivo de viagem, dormimos em Lagoa Santa-GO que, para nossa surpresa, só tinha internet na prefeitura! Desta vez a comemoração foi com whisky da zona franca.

14.09.2005 – Lagoa Santa a Formosa-GO sem muitas novidades.

15.09.2005 – Saímos de Formosa-GO com intenção de dormirmos em Bom Jesus da Lapa-BA, chegamos à cidade ainda cedo e como era dia do padroeiro, a cidade estava lotada de romeiros. Decidimos esticar um pouco mais, e agora estamos na cidade de Ibotirama, as margens do Rio São Francisco, saboreando um surubim na brasa, com cerveja gelada. Amanhã seguiremos para Lençóis.

16.09.2005 – Agora é só alegria, já estamos na Bahia. Logo cedo, ainda no hotel, Nakamura percebeu que o pneu do seu carro estava furado. Mais atraso…, substituição e remendo. Ainda no hotel recebemos a informação que a BR 242 estava bloqueada, caminhoneiros protestando por melhoria naquela rodovia (ah não! bloqueio novamente? Já não chega o que sofremos na Bolívia). Mesmo assim seguimos viagem na expectativa de negociarmos com os grevistas. Sorte nossa! A estrada já tinha sido liberada, havia apenas resquícios de paus queimados nas estradas. Neste mesmo percurso (Iboritama-Lençóis) já aproveitamos para visitar as grutas: da Fumaça, Azul e Pratinha), todas de rara beleza. Que pena não deu para fazer o mergulho na caverna, já era tarde e os guias já haviam encerrado a atividade. Aproveitamos para subirmos ao Morro do Pai Inácio e apreciarmos o pôr do sol lá de cima. Neste percurso encontramos o guia Edson que acompanhava um casal de paulistanos (Luiz e Karina). Este guia, faz parte da associação de guias mirins de Lençóis, e já havia acompanhado Marco e Nakamura, no ano passado, aproveitamos e já acertamos uma programação para o dia seguinte.

18.09.2005 – Saímos de Andaraí logo cedinho, porque traçamos o plano de dormir em Penedo, já no estado de Alagoas. Escolhemos o trecho onde atravessamos o Rio São Francisco em uma balsa. Nossa única parada, além dos abastecimentos e lanches, foi para ajudar um vendedor ambulante que furou o pneu, e estava sem chave para trocá-lo. Chegamos na balsa já às 19 horas, noite de lua cheia, tudo para uma linda travessia, se não fosse uma chuvinha que nos acompanhou, ficou nublado e durante a travessia todos tivemos que ficar dentro do carro porque na balsa não havia proteção. Nos acomodamos no hotel colonial em Penedo (às margens do Rio São Francisco) e fomos jantar no restaurante Forte da Rocheira. Enio que gosta de tudo exótico, preferiu comer carne de jacaré, os demais foram de peixe e camarão.

19.09.2005 – Acordamos mais cedo hoje porque nossa meta é chegar em Natal. A rodovia litorânea que liga Penedo-Maceió-Recife já é nossa conhecida, mas não perde o seu encanto. Andamos poucos km e já avistamos o mar. Como diz a canção: quem é do mar não enjoa, ficamos eufóricos. Enio sugeriu irmos vagarosamente pela beira da praia, desfrutando aquele maravilhoso litoral alagoano. Vamos acrescentar mais um dia na viagem. Tudo bem, todos concordaram. E assim fizemos, fomos curtindo a simplicidade dos lugares e a alegria das pessoas. Segunda-feira, mas muita gente nas praias, uns pescando, outros jogando, outros somente caminhando. Quando encontrávamos obstáculos, nos embrenhávamos pela mata atlântica, canavial, coqueirais, lamaçal … até que o carro do Enio resolveu atolar a beira mar, num riozinho moleza (diz ele que atolou de propósito, só para inaugurar o guincho que ele comprou especialmente para esta viagem). Marco tentou puxar com uma corda e atolou também. Nakamura veio como reforço, com uma cinta, e nada. A esta altura os pneus do carro do Enio já estavam quase todo atolado em função da areia trazida pela correnteza da água, tinha que ser usado o tal guincho. Estávamos na praia do Gunga, rodeados de falésias coloridas, um local perfeito para um acampamento improvisado. Mas o guincho funcionou mesmo. Saímos do atoleiro e fomos comer ostra crua e agulhinha frita nas barraquinhas na beira da praia. Um conselho aos leitores: passando por Maceió, não deixem de visitar esta praia do Gunga, na barra do Rio São Miguel, é um lugar lindo, especial. Prosseguimos a viagem e fomos até Porto de Galinhas, já em Pernambuco. Chegamos a noite mas ainda deu tempo garimpar uns artesanatos (que por sinal são de excelente qualidade e beleza).

21.09.2005 – Chegamos em Natal, missão cumprida!!


Foram acrescentadas algumas fotos no site :
http://rotainca.fotopages.com/